domingo, 8 de outubro de 2017

Paulo Sérgio: o rei que não vingou

Creio que todos nós já tivemos aquela sensação de déjà vu (do francês, “já visto”). Para quem não sabe é aquela sensação de que já esteve naquele lugar, já viu aquela pessoa ou já viveu aquela situação. Eu vivo isso todas as vezes que escuto duas músicas do cantor Paulo Sérgio (1944-1980), A última canção e Quero ver você feliz. É escuta-las e me lembrar das paisagens áridas do Cariri Paraibano, região onde meu pai nasceu, mas não me pergunte qual a relação entre uma coisa e outra que eu não saberia explicar.
Outra imagem recorrente ao ouvir essas músicas é a sala da casa dos meus pais antes de uma reforma que deu origem a uma garagem. Sempre me vejo com minha mãe vendo meus irmãos indo para a escola. Como sou o irmão mais novo, ainda não frequentava a escola. Mas eu não posso afirmar que isso realmente tenha acontecido. Pelo menos não lembro que tenha acontecido de fato. Por fim, as músicas me lembram de um programa que existia na rádio chamado ”Postal sonoro”, em que as pessoas pediam músicas e dedicavam á alguém que estava partindo para outra cidade ou para alguém que estava ficando.
Paulo Sérgio de Macedo nasceu no Espírito Santo e iniciou sua carreira em 1968, lançando um compacto com a música A última canção (a mesma que me causa o déjà vu), vendendo 60 mil cópias em apenas três semanas.  Tornou-se um grande sucesso e, de imediato, foi comparado com uma jovem estrela em ascensão três anos mais velho e com mais tempo de carreira, Roberto Carlos, então um ídolo da juventude. Ambos eram jovens, bonitos e tinham o mesmo timbre de voz. Não demorou para que os críticos dissessem que ele não passava de  um simples imitador do futuro rei. Isso o perseguiu por toda a sua curta carreira. Segundo alguns jornalistas que acompanhavam o mundo das celebridades da época, qualquer tipo de comparação com Roberto Carlos o deixava extremamente irritado.  
Em público sempre deixou bem claro que era fã de Roberto Carlos e que a semelhança no timbre de voz era mera coincidência. Os dois cantores galãs chegaram, inclusive, a dividir o mesmo palco num programa de Silvio Santos. Mas a imprensa da época afirma que o episódio que o teria levado à morte também tem, indiretamente, relação com a comparação que se fazia entre ambos. Na tarde do dia 27 de julho, um domingo, Paulo Sérgio fez uma apresentação no “Programa do Bolinha” e na saída houve um incidente com uma fã, que o teria agredido verbalmente e fisicamente, inclusive afirmando que Roberto Carlos era melhor que ele. Alguns afirmam que ele já chegou à TV Bandeirantes com muita dor de cabeça, estado agravado pela confusão.
No mesmo dia, à noite, depois de não conseguir terminar o show que estava fazendo em Itapecerica da Serra, Paulo Sérgio foi levado ao Hospital São Paulo, onde já chegou em coma. Morreria dois dias depois, aos 36 anos, vítima de um derrame cerebral.  Durante sua curta carreira, que duraria 13 anos, Paulo Sérgio vendeu mais de 10 milhões de cópias. 

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