quarta-feira, 8 de março de 2017

Medo e delírio em Las Vegas: uma jornada selvagem ao coração do sonho americano – Hunter S. Thompson

“Quando sentem que vão morrer,  os elefantes velhos cambaleiam até as montanhas; os americanos velhos, por sua vez, vão para as rodovias e rumam para a morte em carros imensos”.
O jornalista americano Hunter S. Thompson é considerado o criador do chamado Jornalismo Gonzo, onde o narrador se mistura com a ação, confundindo realidade e ficção. Já escrevi aqui, em 2014, sobre o livro Rum: diário de um jornalista bêbado, escrito em 1960, mas publicado apenas nos anos 90, baseado na experiência do autor quando foi enviado para Porto Rico como correspondente de uma revista de esportes. Medo e delírio em Las Vegas também é baseado numa viagem de Thompson, dessa vez para Las Vegas para cobrir uma tradicional corrida de motos. Publicado em 1970 na revista Rolling Stones em artigos, sai em formato de livro no ano seguinte. Em 1998, recebe uma versão para o cinema com Johnny Depp (Raoul Duke) e Benicio Del Toro (Dr. Gonzo).
“Numa sociedade fechada, na qual todos são culpados, o único crime é ser pego. Num mundo de ladrões, o único pecado capital é a burrice”.
O repórter Raoul Duke (alter ego de Thompson) é designado para cobrir uma corrida off-road em Las Vegas. Na companhia do seu advogado, um junkie samoano chamado Dr. Gonzo (inspirado no advogado mexicano Oscar Zeta Acosta), aluga um conversível vermelho e, munidos de um arsenal de drogas (LSD, mescalina, cocaína, haxixe, éter e muito álcool), cruzam o deserto desmistificando o sonho americano. Sempre alucinados devido ao consumo desenfreado de drogas e álcool, os protagonistas vão se metendo numa confusão atrás da outra. Como a grana da revista acabou antes mesmo da viagem começar, Duke não hesita em utilizar seus cartões de crédito sem crédito, acumulando dívidas astronômicas.
“A imprensa é uma gangue de covardes impiedosos”.

Com a mente encharcada de drogas e álcool, Duke tenta fazer o seu trabalho, mas só consegue se meter em repetidas confusões e não enxergar o sentido naquilo tudo. A poeira e a sede (além das drogas e do álcool) nublam sua visão do evento. Ao término da corrida, Duke é designado para outro evento, uma conferência nacional de promotores públicos sobre entorpecentes e drogas perigosas. Não sei por que, mas acho que ele e seu advogado samoano não seriam as pessoas mais indicadas para tal missão. Um livro memorável e uma das narrativas mais intensas e malucas que já li. É aquele tipo de obra que lê somente uma vez não é suficiente.      

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