quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

As sandálias do pescador – Morris West

“Tudo o que a humanidade quer saber é se existe ou não um Deus, qual é a sua relação com Ele, e como é possível a Ele regressar quando Dele se extravia”.
O escritor australiano Morris West (1916-1999) passou 12 anos da sua vida em um mosteiro e, embora não tenha sido ordenado padre por opção própria, o catolicismo nunca deixou de ser um assunto recorrente em sua obra, além da política internacional. Em As sandálias do pescador, seu décimo livro, publicado originalmente em 1963, West consegue unir as suas duas paixões. Em pleno auge da Guerra Fria, com a morte do papa, o vaticano, às vésperas do Concílio Vaticano II, elege como sucessor um cardeal vindo do Leste Europeu, recém-saído das masmorras do regime soviético.
“Quando estamos em situação de poder, não nos devemos mostrar humildes em público, pois uma das funções do governante é reafirmar-se com decisão e energia”.
Mas ter nascido no Leste europeu não será o único “pecado” de Kiril Lakota. Desafiando o tradicionalismo do Vaticano, manteve seu primeiro nome, as insígnias orientais e uma vasta barba que escondia uma cicatriz, fruto das torturas sofridas no cárcere. Além disso, estreitou relações com Jéan Télemond, um jesuíta censurado pelo Santo Ofício a longos anos de silêncio público por causa das suas ideias.  Ao mesmo tempo em que ascendia ao trono de São Pedro, seu torturador, Kamenev, assumia o poder no Kremlin, estabelecendo-se entre ambos em nome da paz mundial.
“Por que é que Deus onipotente fizera instrumentos humanos capazes de se revoltar, instrumentos que podia rejeitar os divinos desígnios, ou degradá-los, ou ainda impedir o seu progresso?”

Em paralelo à ascensão de Kiril, conhecemos o vaticanista americano George Faber, que luta para vencer a lentidão do processo de divórcio da sua namorada, Chiara, casada oficialmente com Corrado Calitri, influente ministro italiano de conduta moral duvidosa, aspirante ao cargo máximo italiano e muito próximo de figuras influentes do Vaticano. Confesso que quando li o livro, não consegui evitar uma comparação com Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. Resguardando as devidas proporções, tanto Kiril quanto Francisco assumiu um discurso de rompimento com determinadas tradições católicas, mesmo que isso não tenha representado muita coisa na prática.   

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