domingo, 4 de dezembro de 2016

Sobrevivente – Chuck Palahniuk

“Na maior parte do tempo, trabalho para uma empresa de limpeza. Escravo em tempo integral. Deus em meio período”.
Até a publicação de Clube da luta (1996), seu primeiro romance, Chuck Palahniuk era apenas, aos olhos do grande público, um moderno escritor marginal e mal compreendido da literatura americana. Com o sucesso do livro (e também da sua adaptação para o cinema), Palahniuk se tornou um dos grandes nomes da literatura do seu país e passou a escrever freneticamente. Sobrevivente, seu segundo livro, publicado em 1999, foi incumbido de ser o sucessor de O clube da luta, mas não ficou à altura, como, de resto, seus outros romances que li. Tem-se a impressão que Palahniuk gastou toda a sua veia crítica, sarcástica e contundente no primeiro romance. Alias, percebe-se que ele usa exatamente a mesma fórmula.
“Do pó vieste, ao pó retornarás. Isso é que é reciclagem”.
O personagem-narrador é Tender Branson, que está sozinho num avião que ele mesmo sequestrou, esperando o combustível acabar e a aeronave se espatifar no chão. Enquanto isso não acontece, ele vai narrando para a caixa-preta a sua vida como membro de uma seita de fanáticos que cometeram suicídio coletivo. Como é regra na seita, por não ser o irmão mais velho, é obrigado a viver na cidade, onde se sustenta trabalhando numa mansão onde nem conhece os donos e à noite tem uma personalidade oculta: incentiva depressivos a se matarem. Misteriosamente, todos os membros da seita que vivem fora dos seus domínios cometem suicídio e, quando só resta Branson, ele vira uma celebridade.
“As pessoas que compram um messias querem qualidade. Ninguém vai seguir um fracassado”.
Assessorado por um especialista em marketing, sua vida se transforma, virando, do dia para noite, numa celebridade religiosa campeã em venda de livros e palestrante que atrai multidões. Depois da transformação repentina de sujeito decadente em líder religioso, a vida de Branson sofre outra reviravolta, o que o leva a sequestrar o avião. Usando a mesma linguagem de O clube da luta, onde faz duras críticas ao consumismo, em Sobrevivente o alvo de Palahniuk é a cultura das religiões e a imposição de estilos de vida. O Branson decadente ou celebridade é obrigado a viver de acordo com padrões que ele não escolheu. 

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