domingo, 11 de dezembro de 2016

Clarice, - Benjamim Moser

“Não havia característica que Clarice Lispector mais quisesse perder do que o local de nascimento”.
Clarice Lispector completaria ontem 96 anos se não tivesse falecido um dia antes do seu 57º aniversário, em 09 de dezembro de 1977. Nada mais justo que o post de hoje seja dedicado a ela. Por isso, trouxemos hoje aquela que é considerada a biografia mais completa de Clarice. Clarice: uma biografia, publicada em 2009, fruto de cinco anos de pesquisa do historiador americano Benjamim Moser, não é apenas mais uma biografia da escritora, mas um estudo completo sobre muitas particularidades da sua origem judaica, do seu universo literário e sobre a sua vida privada.  Na edição da Cosac Naify, que ilustra essa página, a capa traz a imagem da escritora na máquina de escrever, de autoria de Cláudia Andujar, e o título “Clarice,” é uma referência ao estilo de escrever da autora, que adorava esse sinal gráfico.
“Tamanho era o fascínio da misteriosa figura de Clarice Lispector, e tão pouco o que se sabia suas origens, que ainda durante a sua vida todo um conjunto de lendas floresceu em torno dela”.
Chaya Pinkhasovna Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 numa família judia na pequena aldeia de Chechelnyk, região da Podólia, então parte da República Popular da Ucrânia. Devido ao antissemitismo resultante da Guerra Civil Russa, a família (e muitos milhares de judeus) foge da região e, depois de vagar pela Europa se hospedando em albergues, emigram para o Brasil em 1922. Foi durante essa fuga (a família estava de passagem pela pequena aldeia de Chechelnyk) que nasceu a pequena Chaya. No Brasil, desembarcam em Maceió e trataram de substituir seus nomes russos por nomes parecidos em português: o pai, Pinkhas, passou a se chamar Pedro; Mania, a mãe, Marieta; Leah, a irmã, Elisa, Chaya, virou Clarice. A outra irmã, Tania, manteve seu nome eslavo. Três anos depois, a família se muda para o Recife, que tinha uma população judaica mais coesa. Após dez anos morando na capital pernambucana, a família se muda para o Rio de Janeiro.
“Uma pergunta de quando eu era pequena e que só agora me respondo: as pedras são feitas ou nascem? Resposta: as pedras estão”. (Clarice Lispector)
Um fato, acontecido pouco antes da fuga, marcará profundamente a vida de Clarice. Sua mãe, Mania, foi estuprada por soldados e contraiu sífilis. Uma tradição local dizia que a gravidez podia curar a doença e a pequena Chaya foi concebida com esse propósito. Mas Mania não ficou curada após o nascimento da criança e morreria em 1930, aos 42 anos. Clarice viveu toda a sua vida com o sentimento de frustração por não ter curado a mãe com o seu nascimento. Mas o livro não se atém apenas às particularidades da vida autora, mas faz uma contextualização histórica de cada período da vida de Clarice, desde os progroms, que forçaram a família a fugir da Ucrânia, passando pela Era Vargas, quando havia no Brasil um forte sentimento antissemita, e chegando à ditadura Militar, quando a escritora fez forte oposição aos governos militares.
“Mas há perguntas que ninguém me responderá: quem fez o mundo? E o mundo se fez? Mas se fez aonde? Qual era o lugar? E se foi Deus – quem fez Deus?” (Clarice Lispector)
Confesso que nunca li Clarice Lispector, tenha essa “mancha” no currículo. O livro de Benjamim Moser despertou a curiosidade de ler alguns deles, mas me trouxe também a convicção de não ler outros. Independente disso, é um livro fantástico não apenas por falar da vida privada de uma das maiores escritoras da literatura brasileira, mas fazer uma contextualização fantástica de quase sessenta anos de história e, principalmente, por trazer a crítica de cada um dos seus livros, sejam romances, contos, crônicas, novelas ou literatura infantil.      
“Acima dos homens, nada mais há”. (Clarice Lispector)

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