domingo, 30 de outubro de 2016

Rumo a Los Angeles – John Fante


“- Minha própria irmã reduzida à superstição das preces! Sangue do meu sangue. Uma carola, uma beata! Que barbárie!”
O primeiro livro do chamado “Quarteto Bandini” deveria ter sido Rumo a Los Angeles, escrito pelo jovem John Fante em 1933. No entanto, por razões desconhecidas, especula-se apenas que teria sido rejeitado pelos editores por ter um conteúdo muito polêmico para época, só foi descoberto após a morte do autor e publicado em 1985. A sociedade americana dos anos 30 não estaria preparada para ouvir a narrativa do adolescente Arturo Bandini sobre sua agitada vida sexual (na sua imaginação). O que hoje parece sutil e bem-humorado na época era demasiadamente chocante.
“- Sim, a culpa é das mulheres. Elas escravizaram minha mente. Elas, e só elas, são responsáveis pelo que aconteceu hoje”.
Nesse romance, Bandini é um jovem culto (ou procura ser) que ler Nietzsche, Schopenhauer e Spengler e vive em atrito com a mãe e a irmã por causa da religiosidade exacerbada de ambas. Com o pai morto, sustenta a todos com um subemprego insalubre numa fábrica de peixes enlatados e, ao mesmo tempo em que viaja em pensamentos grandiosos, despreza com veemência a ignorância e a inércia de todos que o cerca. Nesses pensamentos grandiosos, Bandini se imagina o Matador negro da Costa do Pacífico, o informante de Roosevelt, o responsável pelo declínio da civilização das formigas ou o grande amante das mulheres de papel, com quem faz sexo dentro do guarda-roupa.
“- Não me importa no que você acredita. Qualquer um que dê crédito a lorotas como a Ressureição e a Imaculada Concepção é um rematado idiota, cujas crenças estão todas sob suspeita”.  
Em seus delírios de grandeza, Bandini desperta no leitor um sentimento ambíguo: ora a antipatia, por sua covardia e imaturidade; ora compaixão, por ter tamanha carga de responsabilidade com tão pouca idade. John Fante criou um personagem tão assustadoramente humano mostrar uma sociedade injusta, bitolada e contraditória. De tão humano, forte e abissalmente poderoso, Bandini, em alguns momentos, chega a eclipsar a trajetória do seu próprio criador.       

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