domingo, 9 de outubro de 2016

Cantos de outono: o romance da vida de Lautréamont – Ruy Câmara

“A ética suprema é a ética do suicida, para quem a morte é uma solução definitiva, e não uma possibilidade de libertar a alma do claustro corpóreo”.
Escrever sobre Isidore Ducasse não é fácil. As informações sobre sua vida são escassas. Não é à toa que ele é considerado uma das figuras mais misteriosas da poesia francesa do século XIX. Daí o valor de Cantos de Outono: o romance da vida de Lautréamont, primeiro romance do dramaturgo e poeta pernambucano Ruy Câmara, publicado em 2003. Apesar da linguagem excessivamente poética e da supressão dos travessões nos diálogos, o que torna a leitura por vezes cansativa, vale a pena ler o livro e conhecer a vida de um personagem tão obscuro da literatura universal.
“O pecado está na consciência ensinada e não nos atos que fortalecem a vida”.
Isidore Lucien Ducasse nasceu em Montevidéu, no Uruguai em 1846, filho de um diplomata francês que estava a trabalho no país. O livro começa como suicídio de Célestine, sua mãe, em plena noite de natal, quando Ducasse tinha apenas dois anos. O futuro poeta presenciou o ato extremado da sua mãe, fato que lhe marcará por toda a sua vida. Criado pela sua ama de leite, Maná, a quem considerada como mãe, Ducasse será mandado a contragosto para a França aos treze anos, medida tomada pelo seu pai (com quem não se dava bem) devido às epidemias e à instabilidade política na região, marcada por revoluções.
“A incerteza é o que me rege e às vezes não tenho vontade de sentir nenhuma dessas falsas alegrias”.
Na França, passou a adolescência em internatos, onde sofria crises de angústias terríveis, solidão profunda e perseguição de pedófilos que dirigiam as instituições por onde passou.  Todos esses sentimentos negativos serão direcionados para a criação literária. Aos dezoito anos, Ducasse rompe relações com o pai, a quem acusa de tê-lo abandonado e adota o pseudônimo com o qual ficou conhecido, Conde de Lautréamont. Segundo Ruy Câmara, a origem do pseudônimo seria a junção de duas palavras: "lauréat", que significa laureado ou premiado em concurso acadêmico, deslocando-se o "t" final para o meio teremos "lautréa", que acrescida de "mont", raiz da palavra "Montevidéu", cidade natal do poeta, tem como resultado "Lautréamont", que significaria "o laureado de Montevidéu".     
“Os que nada tem a dizer são justamente os mais prolixos”.
Em 1870, estoura a guerra franco-prussiana, o que causa a falência do seu tutor, Jean Darasse e, por tabela, do seu pai, François Ducasse. Sem ter como sustentar-se e deprimido pela visão dos cadáveres que se espalhavam por paris, o Conde de Lautréamont ingere um coquetel mortal de remédios no hotel em que vivia. Aos 24 anos, acabava a breve vida de um dos maiores e mais misteriosos poetas da literatura francesa.

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