quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A fogueira das vaidades – Tom Wolfe

“O pensamento de que sua filha poderia de fato ter questionado a existência de Deus aos seis anos de idade – isso ele tomara como sinal de uma inteligência superior”.
Publicado em 1987, A fogueira das vaidades, primeiro livro de ficção do escritor Tom Wolfe, um dos fundadores do movimento jornalístico New Journalism, transformou-se num clássico moderno ao retratar de forma magistral os anos 80. Num ambiente de luxo e riqueza (e muita futilidade), as pessoas valem que aparentam ser, pelas relações que mantem e pelos dólares que conseguem ganhar. Tudo é medido em milhões de dólares. Escondida atrás desse mundo de bonança, relações de classe deterioradas pelo racismo e pela pobreza, usados como armas para promoção pessoal.
“Descer as escadas da estação do metrô da prefeitura com todas essas pessoas escuras e malvestidas era como descer, voluntariamente, numa masmorra, uma masmorra muito suja e barulhenta”.
Apesar dos muitos personagens, o destaque é Sherman McCoy, branco, protestante, bem sucedido operador da Bolsa de 38 anos que ganha um milhão de dólares por ano, mora numa apartamento de mais de três de milhões e se auto intitula “O senhor do universo”. Numa noite, depois de buscar a sua amante no aeroporto, McCoy se perde e vai parar no Bronx. Numa tentativa de retornar para Manhattan, o casal atropela um jovem negro num episódio que os dois amantes interpretaram como uma tentativa de assalto. McCoy foge sem prestar socorro e não comunica o fato a polícia. Após pressão da opinião pública, a polícia descobre o dono do carro de luxo envolvido no acidente e, a partir daí, começa o inferno de McCoy.
“por que seria que nesse país opulento, com os seus montes obscenos de dinheiro e a sua obsessão ainda mais obscena por confortos animais, eles eram incapazes de construir um metrô tranquilo, ordeiro, apresentável e decente como o de Londres? Porque eram infantis. Desde que estivesse debaixo da terra, fora das vistas, não fazia diferença que aspecto tinha”.
Entra em cena outros personagens que tentam desvendar o caso do atropelamento por razões pessoais, não por busca de justiça. É o caso do reverendo negro Reginald Bacon, um manipulador da opinião pública e que fatura alto com movimentos sociais do Bronx; o promotor público Lawrence Kramer, que tem a chance de acelerar a sua carreira e aumentar o salário; e o jornalista inglês Peter Fallow, que vê no episódio uma forma de tirar da mediocridade sua decadente carreira. McCoy, inebriado pela sensualidade da sua amante, Maria Ruskin, irá tomar decisões erradas para confrontar interesses tão diversos.  

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