quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O apelo da selva – Jack London

Buck não lia jornais, caso contrário teria sabido que se adivinhavam problemas não apenas para si, mas para todo o cão de Tidewater, de músculos fortes e com pêlo quente e longo, de Puget Sound a San Diego.
Buk é um cão mestiço, filho de um São Bernardo com uma Collie, que vivia na fazenda do juiz Miller, numa existência luxuosa num ambiente de comida farta até que é vendido pelo jardineiro da fazenda como forma de pagar uma dívida de jogo.  Levado para o Alasca para servir de cão guia de trenós em plena corrida do ouro, Buk vai aprender, da pior forma possível, sobre o comportamento dos homens e dos outros animais. Começa o gradativo processo de mutação de um cão doméstico e dócil num lobo selvagem.
"- Então? Que é que eu disse? Não falei a verdade, quando disse que esse Buck valia por dois demônios?!"
A história se passa no ano de 1897, quando homens e mulheres se atiravam na busca de desenfreada por ouro nas regiões mais inóspitas e selvagens do Alasca. É nesse ambiente que Buk vai mudar várias vezes de dono, mas o tratamento dispensado a ele e seus colegas de infortúnio será o mesmo: fome, frio, trabalho exaustivo e maus-tratos. A convivência e o embate com outros cães vão levando Buk de volta às suas origens de lobo, desenvolvendo a força e astúcia como armas para a sobrevivência. Mesmo amando o homem, como cão domesticado, passa a se isolar cada vez mais no obscuro da selva até virar uma lenda viva, um cão de respeito e um lobo por direito. 
E, como Buck entendia as pragas como palavras de amor, assim também o homem entendia essa falsa mordida como uma carícia.
Publicado em 1903, O apelo da selva, do escritor norte-americano Jack London, faz claramente uma crítica à chamada civilidade, que necessariamente perde espaço quando a ordem do instinto é sobreviver. Todos os valores ensinados à Buck pelos seus primeiros donos deixam de existir quando o cão se vê diante de um ambiente cruel e implacável com os mais fracos. À Buck não restará alternativa a não ser se transformar num animal selvagem e mortal com outros cães e com os humanos. Isso fará de Buck uma lenda!

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