quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Só por hoje e para sempre: diário de um recomeço – Renato Russo

“Eu me adoro, eu não gosto é do mundo”.
O apetite dos fãs da banda Legião Urbana é insaciável. Qualquer coisa que se publique sobre a banda ou sobre qualquer um dos seus ex-integrantes vai vender. Por mais que se pense que todos os assuntos referentes à banda estão esgotados, sempre há algo mais a ser revelado ou um boato a ser confirmado. E quem cuida do espólio de Renato sabe disso. Seu filho, herdeiro único, anuncia já no prefácio, intitulado O homem por trás do mito, que Só por hoje e para sempre: diário de um recomeço, publicado em 2015, é apenas o primeiro de uma série de livros que reunirão diários, poemas, letras, obras de ficção e desenhos deixados pelo ex-líder da Legião Urbana.
“O mundo lá fora me causa um misto de medo e indiferença (se isso é possível)”.
Não que não seja importante saber pelo próprio Renato das suas angústias, de detalhes da sua vida pessoal, de momentos importantes durante as turnês da banda, da sua relação com seu filho, Giuliano. Indiscutivelmente, tudo isso é importante para quem é fã. Mas percebe-se certa voracidade de todos aqueles que se envolveram, direta ou indiretamente, na carreira da Legião Urbana em tirar algum proveito dessa vivência. Por isso, fãs da legião Urbana, preparem-se, pois muita coisa ainda irá sair sobre a Legião e, principalmente, sobre Renato Russo.
“Raramente beleza vem acompanhada de inteligência e charme”.
O diário de um recomeço começa quando Renato toma a decisão de se livrar do vício em álcool, maconha, heroína e cocaína. Estamos no ano de 1993 e a internação na Vila Serena dura 29 dias entre os meses de abril e maio. O tratamento envolvia várias dinâmicas e escrever sobre si mesmo e sobre o tratamento estava entre elas. O que se vê nos diários é uma pessoa só, angustiada e desorientada, que possuía uma descrença generalizada no mundo e nas pessoas, descambando para a autodestruição.
“O maior conflito que vivia na ativa era o de só me sentir bem comigo mesmo quando alcoolizado ou drogado. (...) Achava o mundo cruel e sem sentido, e as pessoas estúpidas ignorantes, falsas e más”.
Mas a sua genialidade aparece até nesses momentos tortuosos. As marcas desses dias de confinamento podem ser vistas no CD da banda lançado no final daquele ano, O descobrimento do Brasil. Na canção Vinte nove, cujo título se refere à quantidade de dias que ele ficou confinado na clínica, Renato coloca o sintético verso “decidi começar a viver”. O fato é que, independente dos interesses por trás dos lançamento de livros sobre a Legião e sobre Renato, o fato é que fã não quer saber disso e eu sou fã! Por isso, a leitura do livro foi um deleite para mim.  

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