domingo, 28 de agosto de 2016

O pintassilgo – Donna Tartt

“Imaginar algo acontecendo com minha mãe era particularmente assustador, porque meu pai não era muito confiável”.
Lançado em 2013 nos Estados Unidos e na Europa, O pintassilgo, da americana Donna Tartt, chegou ao Brasil no ano seguinte com status de best-seller, com 1,5 milhão de exemplares vendidos somente na terra do Tio Sam e a conquista do prêmio Pulitzer de ficção. A obra atraiu opiniões extremadas e apaixonadas, tanto negativas como positivas. Num calhamaço de mais de 700 páginas, Donna Tartt elaborou uma história intrincada e prolixa, com muitos personagens e tantas idas e vindas que podemos compara-la a um conto de fadas. Porém, isso não faz de O pintassilgo um livro ruim e cansativo.
“O champanhe fazia cócegas no céu da minha boca – uma alegria distante e empoeirada, engarrafada num ano mais feliz em que minha mãe ainda estava viva”.
Theo Becker tem 13 anos e mora com a mãe, Audrey. Numa visita a um museu em Nova York mãe e filho são vítimas de um ataque terrorista que mata Audrey, mas Theo consegue escapar dos escombros levando consigo um quadro do pintor holandês Carel Fabritius, pintado 1654, intitulado “O pintassilgo”.  Sem ter para onde ir, já que tinha sido abandonado pelo pai alcoólatra, Theo vai morar na mansão da família de um amigo da escola, onde se sente deslocado e triste. Atormentado pela ausência da mãe e sentindo solitário, Theo se apega a pintura retirada do museu.
“É um mito a ideia de não se pode funcionar à base de narcóticos: injetar era uma coisa, mas pra alguém como eu (...) as pílulas eram a chave para que fosse não só competente mas altamente funcional”.
Com o aparecimento do pai, mais interessado nos lucros que a morte da ex-mulher poderia lhe trazer, Theo vai viver em Las Vegas, onde conhece Boris e com quem comete pequenos crimes e consome drogas em escala industrial. Negligenciado pelo pai trambiqueiro e pela madrasta desleixada, resta a Theo se atirar às aventuras da adolescência na companhia de Boris. Com a morte do pai, Theo foge da madrasta e retorna para Nova York, onde irá encontrar algum conforto emocional num antiquário, mas continuará atuando à margem da lei.
“Para os humanos – aprisionados na biologia – não havia misericórdia: vivemos por um tempo, fazemos um pouquinho de cena e morremos, apodrecemos no chão como lixo”.
Inicialmente, a narrativa é bastante arrastada. Mas superada essa etapa, a leitura assume contornos mais fluidos e vontade de descobrir qual será o destino de Theo prende o leitor. É um livro que deve ser lido com respeito, apesar das escorregadelas da autora. Como disse Stephen King, o livro é uma raridade que aparece meia dúzia de vezes por décadas. Não sou eu que vou questionar...  

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