domingo, 10 de julho de 2016

Contos escolhidos – Aldous Huxley

“Cuide do seu interior; é o segredo de uma velhice feliz”.
Essa coletânea, com 21 contos, foi publicada originalmente em 1957 quando o escritor inglês já tinha abandonado a narrativa curta e se dedicava aos experimentos filosóficos e aos romances. No período em que escreveu a maioria desses contos, entre os anos 20 e 30, Huxley tinha uma produção literária intensa, publicando cinco livros de contos e novelas, seus primeiros quatro romances, além de críticas, ensaios e relatos de viagens.
“Nunca tente compartilhar suas alegrias. As pessoas são solidárias na dor, mas não no prazer”.
Adepto da “narrativa de ideias”, não se vê em seus contos (ou se ver raramente) a descrição de paisagens e ambientes. O comum são os diálogos em jantares, banquetes ou qualquer situação social em que as ideias dos personagens são expostas, na maioria das vezes usando a ironia para contestar os valores da sociedade da época, como também as ideias e o uso equivocado, na visão do escritor, que se fazia da cultura. A afetação intelectual da elite inglesa também ocupa lugar de destaque nas críticas de Huxley.
“Posso ser solidário com o sofrimento dos outros, mas não com seu prazer. Há alguma coisa curiosamente enfadonha na felicidade alheia”.
Outro tema recorrente é o sexo, abordado logo no primeiro conto, Felizes para sempre, onde um jovem em licença de guerra recusa o amor carnal da namorada antes de voltar para frente de batalha. Nesse mesmo conto, também é abordada a distância entre a educação clássica da Universidade de Oxford e a realidade palpável da guerra na vida dos jovens. Em O sorriso da Gioconda, uma virgem de 36 anos é seduzida por um senhor casado e, mesmo depois deste ter enviuvado, desprezada.
“O efêmero sobrepuja o permanente, o clássico”.
Em A livraria, o narrador se depara com uma livraria numa rua onde predomina o comércio barato e a compra de um livro inútil mostra a fragilidade da crença na superioridade intelectual. Em Com números, Eupompus conferiu nobreza à arte, o narrador visita seu amigo Emberlin, que desenvolveu uma obsessão pela frase que dá título ao conto, do livro de Bem jonson, Descobertas.
“Perguntou-se como seria o corpo das pessoas ao ressuscitarem. Parecia curioso, considerando-se a manifesta atividade dos vermes”.
No entanto, de todos os contos, o destaque é para Sir Hércules. No século XVIII, o herdeiro da família Occam nasce anão para desespero do seu pai, que acreditava ter trazido um “aborto para o mundo”. Ao assumir a fortuna da família após a morte dos pais, Hércules substitui toda a criadagem do castelo por pessoas da sua estatura e os cavalos por pôneis, criando um mundo a parte. Após muito procurar uma esposa do seu tamanho, casa-se com Filomena, filha de um nobre veneziano falido que estava prestes a vendê-la a um circo. Depois de quatro anos de muita felicidade em seu mundinho, nasce Ferdinando que, nos dizeres de Filomena “não parecia normal”, pois tinha um crescimento normal, causando terror e frustração no casal. Ferdinando representará a desgraça para o mundo construído por Hércules e Filomena.
“Na vida de casado, três é com frequência melhor que dois”.   

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