domingo, 6 de dezembro de 2015

Contos negreiros – Marcelino Freire

Quinto livro de Marcelino Freire, escritor pernambucano radicado em São Paulo, Contos negreiros, publicado em 2005 e ganhador do Prêmio jabuti do ano seguinte, reúne 16 contos que abordam temas que mostram bem o gosto do autor pela polêmica, como homossexualidade, turismo sexual, racismo, tráfico de órgãos. Apesar de poéticos, os contos de Marcelino são viscerais, sujos, de uma sinceridade assustadora, tendo sempre como pano de fundo conturbados cenários urbanos.
Nos dois primeiros contos, Trabalhadores do Brasil e Solar dos príncipes, vêm à tona a questão racial no Brasil. No primeiro o personagem apresenta um tom raivoso e magoado, no segundo o autor opta pela ironia corrosiva. Esse mesmo tema volta a ser abordado depois em Polícia e ladrão e Linha de tiro. Em Nação zumbi o personagem é preso por tentar vender seu próprio rim que, afinal, é dele e ele pode fazer o quem bem entender com qualquer parte do seu corpo.
Em Coração, uma narrativa um pouco mais longa, o tema abordado é a homossexualidade, tema caro ao autor, homossexual assumido. Em Totonha Marcelino volta a inverter valores quando a personagem explica por que não tem interesse em ser alfabetizada. Em Vanicléia, a personagem apanha do marido e o compara aos gringos, numa clara alusão ao turismo sexual: “Casar tinha futuro. Mesmo sabendo de umas que quebravam a cara. O gringo era covarde, levava pra ser escrava. Mas valia. Menos pior que essa vida de bosta arrependida”.
E por aí vai! Marcelino Freire não é um escritor de ideias convencionais. E isso, entre outras qualidades, faz dele um dos grandes expoentes da nova geração da literatura brasileira. 

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