quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Amar é crime – Marcelino Freire



Um livro de contos que o autor prefere chamar de “pequenos romances”, Amar é crime, publicado em 2010, é, na definição de Marcelino Freire, o seu livro mais apaixonado, principalmente por causa da morte da sua mãe no ano anterior, que era uma das vozes contidas em suas narrativas. Outra característica desse livro são as narrativas mais longas, o que vai de encontro a um traço do autor, que se notabiliza por narrativas rápidas e contundentes. A contundência permanece, o que é uma boa notícia.
Os contos falam de amor, mas não vá esperando aquele amor de contos de fadas, mesmo por que esperar isso das narrativas de Marcelino é o mesmo que esperar Papai Noel no carnaval. O amor contido em Amar é crime está longe daquele amor contido nos discursos de pregadores do Evangelho e mais perto da nossa realidade cruel e violenta. E essa característica aparece logo no primeiro conto, Vestido longo, em que a protagonista, uma menina prostituta, diz que “Assim que nasce, aparece, cresce exibindo a bunda, mostrando o caroço do cu”.   
Em Mariângela, uma garota gorda resolve matar a mãe para vingar as humilhações sofridas. Crime mostra um jovem que planeja sequestrar a namorada para ficar famoso. O genial Liquidação narra a briga sangrenta por um sofá velho achado no lixo. Em jesus te ama, mostra o envolvimento de um padre com um adolescente e a confissão do padre de que desde criança desejava o corpo masculino: “Quando pequeno, queria tocar o corpo de Cristo. Esconjuro. O corpo perfeito. Esconjuro. O corpo de braços abertos. Esconjuro”.
Amar é crime não vem para acomodar as ideias e os sentimentos. Diverte, é verdade! Mas faz pensar, incita, excita, enoja e desperta, principalmente, sentimentos conflitantes.

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