quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Quando eu era o tal – Sam Kashner

Sam Kashner, hoje jornalista e escritor, teve seu primeiro contato com as obras dos escritores Beatnicks aos treze anos através de um vizinho dois anos mais velho. Desde então acalentou o sonho de ter contato com o grupo de escritores do movimento de contracultura que inspirou astros como Bob Dylan, Jim Morrison e John Lennon. A oportunidade surgiu aos 19 anos, em 1976, quando Sam Kashner se tornou o primeiro (e único) aluno do curso de poesia do Jack Kerouac School of Disembodied Poetics (algo como Escola Jack Kerouac de Poetas desencarnados).
Os dois anos que passou entre os poetas Beats deu origem ao livro Quando eu era o tal – minha vida na Jack Kerouac School, lançado em 2005. Duas observações são feitas pelo autor logo no início. A primeira delas é que o Movimento Beat já estava em decadência em 1976, quando ele vai para a Jack Kerouac School. A segunda observação é que astros, como eram vistos alguns dos escritores do movimento, perdem sua aura mítica quando vistos de perto em seu cotidiano. Isso não quer dizer que as suas obras percam sua importância.
De fato, quem lê Quando eu era o tal não consegue imaginar que aqueles sujeitos foram os mesmos que escreveram as obras Beatnicks. Allen Ginsberg, autor de O uivo, obra proibida em 1957 por ser pornográfica, aparece como um homossexual promíscuo que tinha necessidade de ser bajulado e que tratava o poeta Peter Orlovsky, seu namorado por quase três décadas, como uma “gueixa”, sempre à sua disposição.
William Burroughs, autor de Almoço nu, de 1959, é retratado como um sujeito frio, sem compaixão, que tem uma relação de completa indiferença com o filho, que é viciado em heroína e vivia a beira do suicídio. Lembrando que nessa época Kerouac já tinha falecido, quem completava o grupo de fundadores do movimento presente na escola era o poeta Gregory Corso, altamente dependente de drogas e que não conseguia organizar seus poemas para publicação. Apesar da sua frequente agressividade, foi com ele que Kashner mais se aproximou, era o menos “estrela” dentre eles.
Um livro com humor sutil, que mostra a verdadeira face de pessoas que foram transformadas em mito, mas que em nada diminui a importância das suas obras.

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