domingo, 4 de outubro de 2015

A galinha degolada e outros contos – Horácio Quiroga

Se há algo para o qual o ser humano se sente arrastado com cruel fruição, este algo é terminar de humilhar alguém depois de já ter começado. ( A galinha degolada)
O que não faltou na vida pessoal do escritor uruguaio Horácio Quiroga foram tragédias. Os suicídios do pai, do padrasto, da primeira esposa, do amigo e ex-presidente Baltazar Brum e das duas filhas (estas, depois da morte do escritor); a morte dos dois irmãos; o assassinato (por acidente) do melhor amigo e, por fim, a descoberta do câncer que o levou ao suicídio em 1937. Claro que essa sucessão de tragédias não poderia deixar de influenciar sua obra.
Em A galinha degolada e outros contos, na verdade uma seleção de apenas seis narrativas breves e de alguns artigos publicados numa revista uruguaia nos anos 20, destaque para o conto que dá título ao livro, com personagens que lembram suas tragédias pessoais. No conto o casal Mazzinni –Ferraz vê seu sonho de construir uma família destruído quando seus quatro filhos nascem com anomalias que os tornam débeis mentais. Um conto que hoje seria considerado politicamente incorreto.
Antes dele, temos o conto O travesseiro de penas, em que uma mulher definha vítima de uma doença misteriosa. Depois de sua morte, descobrem o repulsivo assassino ao revirarem o travesseiro. Em O solitário, a personagem arrivista casa-se com um joalheiro sem a menor vocação para a riqueza. Para ela, conviver com as magnificas joias que o marido cria para as clientes passa a ser uma tortura.
Em O espectro, um jovem ator morre antes do filme de estreia e todas as vezes que a viúva e seu melhor amigo (que casou com a viúva) vão ao cinema percebem que o ator olha diretamente para eles e cada vez mais perto da tela. Em O mel silvestre o protagonista sai da cidade grande para se aventurar na selva e se depara com um batalhão de formigas carnívoras. Finalmente, em A câmara escura um fotógrafo retrata um velho morto e todas as vezes que encara a câmara escura para fazer a revelação, a horrenda face do morto emerge no papel fotográfico.     

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