segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Cinema nacional: Meu amigo Cláudia

Dos muitos documentários que assisti Meu amigo Cláudia (2009), do diretor estreante Dácio Pinheiro, é um dos mais impactantes e esclarecedores. Cláudia Wonder, nascida Marco Antônio Abrão em 1955, tonou-se uma das artistas brasileiras mais importantes da cena underground nas décadas de 80 e 90. Se isso não bastasse, tornou-se ativista política nos anos 2000, ganhando notoriedade como líder do movimento em prol do livre exercício da diversidade sexual, se envolvendo na criação do Centro de Referência da diversidade, em parceria com a Prefeitura de São Paulo. Cláudia morreu em novembro de 2010 em decorrência de uma infecção causada por fezes de pombo.
O documentário conta a história de Cláudia a partir de seus depoimentos e de pessoas próximas, como Leão Lobo, José Celso Martinez Corrêa, Kid Vinil, Sérgio Mamberti e Glauco Mattoso. Traça sua trajetória desde sua origem, quando seu pai mandou prendê-la por ser homossexual; passando pelo primeiro filme pornô com travesti, Sexo dos anormais, que ela protagonizou; e participação em peças de teatro de Zé Celso Martinez e longas, como O marginal. O filme também mostra sua veia musical nos anos 80, ao se mostrar como vocalista das bandas Jardim das delícias e Truque sujo e lançar seu CD solo, 2007.
O filme é realmente impactante ao mostrar como um travesti conseguiu “cavar” seu espaço no cinema, no teatro e na música, mas não apenas isso. Como militante no movimento  Diretas Já, nos anos 80, e pelo direito às relações homoafetivas, nos anos 2000, Cláudia Wonder teve papel fundamental. O filme é esclarecedor, pois mostra como a homofobia, que contamina nossa sociedade ainda hoje, foi muito pior a menos de trinta anos, como mostra uma reportagem do Programa Globo Repórter, da Rede Globo, de 1985, quando os entrevistados diziam sem “cerimônias” que os travestis tinham mesmo que ser mortos pois, “poluíam” a cidade. Vale a pena ler a crônica de Caio Fernando Abreu que deu nome ao documentário. 

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