quarta-feira, 22 de maio de 2013

O ladrão no fim do mundo – Joe Jackson


Em 1900, auge do Ciclo da Borracha na Amazônia, a região produzia 90% da borracha consumida no mundo. Em 1923, esse percentual era de apenas 2,3%. Entre 1808 e 1913, a região amazônica viveu uma fase de opulência graças ao produto extraído da Hevea brasiliensis, conhecida na região como seringueira. Os ganhos eram tão altos que, em 1906, escoavam pelas águas do Rio Negro riquezas suficientes para pagar 40% da dívida anual do Brasil; Manaus possuía o maior consumo per capita de diamantes do mundo e o custo de vida na região era quatro vezes mais alto do que em grandes metrópoles do mundo, como Londres e Nova York. É dessa época a construção do Teatro Amazonas, símbolo maior da opulência amazônica.
A história da decadência da época áurea da borracha na região amazônica é contada em O ladrão no fim do mundo, do escritor e jornalista investigativo americano Joe Jackson. Na verdade, o livro é a biografia do aventureiro inglês Henry Wickhan, a quem credita-se o roubo de 70 mil sementes da seringueira, em 1876, que foram plantadas no Jardim Botânico de Londres e, logo depois, levadas para as colônias britânicas na Índia e na Nova Zelândia. Trinta anos depois, essas árvores produziriam a borracha que faria concorrência com a borracha amazônica e levaria a região à falência.
 Henry Wickhan nasceu em 1846, na Inglaterra, e desde cedo manifestou pendor pela aventura. Antes de vir para o Brasil, em 1871, esteve envolvido em aventuras fracassadas em várias partes do Império britânico na América do Sul e na Ásia. Aliás, Wickhan colecionou fracassos na vida, o que destruiu seu casamento com Violet Carter. Seu único êxito foi exatamente o contrabando das sementes de Hevea, o que lhe valeu um reconhecimento tardio por parte do Império e o titulo de Sir.
Narrador habilidoso, Joe Jackson sabe narrar a saga de Wickhan com maestria, contextualizando-a dentro de uma empreitada do império Britânico para manter o controle sobre uma área vital da economia da época. Inclusive, o ponto forte do livro é o detalhamento da economia da época para explicar as circunstâncias em que ocorreu o que pode ser chamado de primeiro caso de biopirataria da Era Moderna. Um livro interessantíssimo.  

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