segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um alicerce de poeira ou: um desabafo! - Parte 2 -


A sociedade que critica a classe política, responsabilizando-a por essa bandalheira é a mesma que não faz nada para mudar o quadro de falência e que se encontra a educação pública no Brasil. É mais fácil aplacar a sua sede de vingança discutindo a diminuição da menoridade penal, discutindo a pena de morte.  Se levássemos a sério a educação não haveria necessidade de tais debates. Essa sociedade não consegue, na sua sagrada célula familiar, incutir em seus pupilos valores morais e senso de cidadania e de responsabilidade, imputando à escola tais responsabilidades que, em hipótese nenhuma, as pertence.
O que eu mais escuto no cotidiano escolar são pais afirmando que “não sei mais o que fazer com esse (a) menino (a)” ou “não tenho tempo de ir na escola”. Se o cidadão acha que não tem condições de impor limites ao seu filho ou que não terá como acompanha-lo vida afora, aborte! O conselho pode parecer chocante e criminoso. E é! Mas igualmente criminoso é deixar o filho a deriva a vida inteira e atribuir a terceiros o “dever” de suportar a sua falta de limites, as suas impertinências e, em última instância, as suas delinquências. Muitas dessas crianças não são frutos de um parto bem sucedido, mas de um aborto não realizado.
Nesse quadro nefasto, os professores não estão isentos de responsabilidades. Indiscutivelmente, há professores competentes e comprometidos com as suas funções, mas estes representam ilhas num mar de mediocridade e falta de compromisso. Adoram ser vistos como “coitadinhos”, pois assim não precisam ser cobrados. Acredito que muitos rezam dia e noite para continuarem sendo mal remunerados, pois assim não serão nunca cobrados. Não se discute que professor, no Brasil, é mal pago, mal formado e trabalha em condições adversas, mas isso não justifica determinadas posturas. Mesmo por que o professor sem compromisso ou incompetente pode ter seu salário multiplicado por dez que vai continuar incompetente e sem compromisso.
No início desse mês, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo divulgou que os professores da rede faltam 21 dias por ano ao trabalho. Isso representa mais de 10% dos 200 dias letivos que toda escola tem que cumprir por lei. De imediato, uma das entidades de classe, o Centro do Professorado Paulista (CPP), saiu em defesa dos faltosos, alegando que a falta de dinheiro para a condução seria a principal causa das faltas. Eu ouso discordar! Essa realidade é nacional, professor falta por qualquer coisa: por falta de dinheiro, por problemas de saúde, por que está chovendo, por que está fazendo sol. O simples fato de ser dia letivo já é uma boa razão para faltar ao trabalho.
O fato inquestionável é que a educação pública pede socorro. Não se sabe pra quem, mas pede. A consequência de toda essa situação calamitosa é que a escola, antes um ambiente que deveria promover o progresso do saber e a consciência cidadã, que era a “segunda casa” de muitos, se transformou num ambiente de conflitos e exclusão. Predomina a permissividade e um sistema avaliativo flexível e condescendente onde o que importa é a aprovação a todo custo.
Estamos construindo uma sociedade sobre um alicerce de poeira, cada vez mais violenta, onde todos querem levar vantagem em tudo, onde “passar a perna” no outro é motivo de orgulho, onde enriquecer de forma ilícita deixa de ser vergonha, onde depredar o patrimônio público é brincadeira de criança, onde a fama vem unicamente por atributos físicos, onde os livros serão escritos com letras mortas, onde a tecnologia presta serviço apenas à pedofilia, à fofoca e às futilidades virtuais. Custa-me dizer que sinto vergonha de ser professor nesse país, de ser visto como mais um “coitadinho”.       

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