segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Xixi com pânico


A parede estava a pouco mais de um palmo do meu nariz. Dava pra ver as manchinhas no azulejo branco. “O que serão?”, penso comigo. Deve ser acúmulo de bactérias que povoam esse ambiente insalubre. O cheiro ácido de urina, misturado com cheiro de desinfetante causa ardência no nariz.
Olho para baixo e vejo o mictório com várias bolinhas naftalina agitando-se de acordo com a força da água que sai de uma pequena torneira. Fico prestando atenção no desenho da tela de cor azul em formato triangular que fica no fundo, junto com a naftalina. Fico pensando para que serve aquela tela cheia de furinhos: será para que as bolinhas de naftalina não caiam no ralo? Ou será mais uma invenção do capitalismo para que alguém ganhe uns trocados?
- Cadê essa porra que não chega! – penso.
A porra a que me refiro é meu xixi. Sempre foi um tormento pra eu mijar em público. Na verdade, nem precisa está em público, basta imaginar que tem alguém por perto para a minha uretra “esticar” e ficar com 15 metros ou mais. O xixi leva uma eternidade pra sair.  Quando sai! Banheiro público pra mim é um tormento, principalmente aqueles em que mija coletivamente naqueles mictórios separados uns dos outros por uma pequena parede que impede apenas que você veja o pênis do seu “vizinho”. É chegar um “vizinho” e pronto!, meu xixi entra em pânico e não sai por nada.
- Puta que pariu! – é a primeira coisa que me vem à cabeça quando alguém entra no banheiro depois de mim. Sei que vai começar meu tormento.
A espera interminável e exasperante pelo mijo não é o único inconveniente. Quando o “vizinho” chega e se depara com um cara ao seu lado, parado sem fazer nada, sem barulho do xixi batendo na louça do mictório, o cara logo passa a pensar que você é gay a caça de parceiros. Por causa disso já passei por alguns “apertos”.
Certa vez estava eu no meu suplício a espera do desejado quando chega ao meu lado um sujeito com cara de poucos amigos. Eu não olhava pra ele, mas o via pela minha visão periférica e o mesmo devia está acontecendo com ele. De repente, o sujeito vira a cabeça pra o meu lado e rosna:
- O que tá olhando, viadinho!
Fiz a cara mais de macho que consegui e rosnei de volta, pouco convincente:
- Pô, cara! Sou macho!
Saí sem fazer xixi.
Em outra ocasião, estava na mesma situação de espera, quando “estacionou” um sujeito do meu lado. Esse não tinha cara de mau, ao contrário, tinha um olhar guloso. 
- Oi. – sussurrou praticamente dentro do meu ouvido.
Novamente tive que buscar na minha memória uma cara de macho, que tinha a impressão de ser pouco convincente, e rosnei:
- Pô, cara! Sou macho!
A mesma frase para situações opostas.
Eu já estava viciado naquele cheiro que era um misto de urina e desinfetante, tão característico dos banheiros públicos. Ir para bares para mim representava um suplício. As pessoas normais quando chegam em bares ou restaurantes se preocupam com a qualidade da comida e do serviço. Eu me preocupava com o banheiro!
Nos meus momentos de desespero chegava a ter inveja do Zuckerman idoso de Roth com sua incontinência urinária, o que o obrigava a usar fraldões geriátricos e cuecas de plástico. Exagero, claro.
- Assim já demais. – pensava, corrigindo-me pelo exagero.
Mas a ardência na uretra, a bexiga a ponto de explodir e a dor no “pé” da barriga não permitiam que eu esquecesse meu bloqueio mictórico. Tudo isso mais as situações delicadas que eu era obrigado a enfrentar por causa dele.
Uma delas foi com uma garota que conheci na faculdade. Na primeira vez que saímos cometi o erro, por elegância e cavalheirismo, de deixa-la escolher o restaurante onde íamos jantar. Dentre tantas alternativas, ela escolheu a que eu menos queria: um restaurante cujos banheiros eram coletivos, os malditos mictórios!
- Puta que pariu. – pensei, já prevendo o desastre.
E não preciso dizer que foi um desastre mesmo. Na primeira hora do encontro tudo correu bem. Aquelas amenidades fúteis e inúteis que todo mundo conversa quando está querendo conquistar outro. Até que me deu vontade de ir ao banheiro. Começou o desastre!
Nos setenta minutos seguintes, fui onze vezes ao banheiro e em todas elas era aquele drama: ficar em pé na frente do mictório, sentindo aquele cheiro que já me era tão familiar, encarando a parede e imaginando o que todos aqueles que entravam e saíam estavam pensando sobre aquele sujeito que entrava e saía do banheiro pra ficar olhando para parede.
Não consegui explicar para a minha parceira o que estava acontecendo muito menos perguntar para ela o que ela achava que estava acontecendo, nem tive tempo de criar uma intimidade para contar posteriormente, pois o quase/provável/futuro relacionamento degringolou ali mesmo.       
Havia aquelas ocasiões em que ia ao motel com alguma parceira e no meio do sexo a bexiga enchia. Parecia um saco plástico cheio d’água sacolejando. Era o anticlímax!
- Dá licença, meu bem, vou ao banheiro rapidinho.
Via a incompreensão estampada na cara da parceira. Qualquer uma delas! Eu sabia que as coisas não continuariam tão boas como estavam.
- Como “ao banheiro”? Numa hora dessas? – imaginava eu que elas assim se perguntavam.
Começava meu tormento.
- E se ela ouvir o barulho do xixi? – essa pergunta sempre me ocorria mesmo sabendo que algumas delas se excitavam ouvindo o barulho do xixi batendo na água.
Nesse caso a frustração se multiplicava e alcançava níveis estratosféricos. Trepada interrompida, ela louca pra ouvir o barulho e eu louco pra fazer xixi. E o infeliz teimava em não vir. Empacava a meio caminho entre a bexiga e a uretra. E a trepada ia pelo ralo...
Confesso em público que invejo dolorosamente aqueles sujeitos que conseguem fazer xixi num poste no meio de uma multidão e ainda dão aquelas balançadas de praxe. É escandalosamente frustrante saber o quanto uma mijada, ou a falta dela, interfere na vida social/sexual de um indivíduo. 
Mas recuso-me a acreditar que o problema está em mim. Se não está em mim, está no xixi. Existirá terapia para meu xixi? Alias, existirá xixi com problemas psiquiátricos? Xixi depressivo, xixi com pânico, xixi esquizofrênico, xixi psicótico, xixi esquizoafetivo, xixi maníaco depressivo, xixi bipolar, xixi obsessivo-compulsivo, xixi somatoforme. Preciso procurar um analista!
Mas antes vou ao banheiro fazer um xixizinho...

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