sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Sérgio Porto (1923-1968)


Quase passou em branco, mas lembrei-me mesmo com alguns dias de atraso, de render uma homenagem a Sérgio Porto, ou Stanislaw Ponte-Preta, esse doce iconoclasta que teria feito noventa anos no último dia 11, se estivesse vivo. Nascido no Rio de Janeiro em 1923 era o mais carioca dos cariocas dos cariocas. Era um viciado em Copacabana! Sérgio Marcos Rangel Porto era radialista, compositor, escritor e, mais tarde, televisista (palavras dele), apesar do horror que tinha em trabalhar na recém-inventada televisão.
Começou a carreira jornalística no final dos anos 40 em revistas como a Manchete e jornais como o Diário Carioca e Última Hora, migrando depois para a televisão. Ainda nos anos 40 criou o personagem Stanislaw Ponte-Preta junto com o ilustrador Tomás Santa Rosa (inspirados em Serafim Ponte Grande, personagem de Oswald de Andrade) e passou a assinar suas crônicas somente com o nome do personagem. Boêmio, era um apaixonado por MPB e jazz, e como todo apaixonado era exigente a ponto de criar a MPBB, Música popular Bem Brasileira.
E deu sua contribuição nesse campo. Fazia coberturas de shows como jornalista, escrevia em jornais e revistas sobre o assunto e compunha. Compôs Samba do crioulo doido, para o teatro rebolado. Em 1957, redescobriu Cartola, que sobrevivia como lavador de carros e vigia, ajudando-o a retornar aos palcos e publicando artigos sobre ele em jornais de grande circulação. 
Iconoclasta que era e com um humor cáustico, criou, na televisão, no ano de 1954, As mulheres mais bem despidas do ano, para se contrapor ao jornalista Jacinto de Thormes, que havia criado As mulheres mais bem vestidas do ano. Surgiam assim as Certinhas do Lalau, que durou de 1954 a 1968 e foram escolhidas 142 vedetes, entre elas Norma Bengel e Betty Faria.
Era um mestre nas comparações enfáticas:
Mais assanhado do que bode velho no cercado das cabritas.
Mais duro do que nádega de estátua.
Mais feia que mudança de pobre.
Em plena era pré-revolução sexual, traçou em 12 palavras os tais anos dourados nada permissivos, principalmente em matéria de sexo: Se peito de moça fosse buzina, ninguém dormia nos arredores daquela praça.
Atrevido, criou em plena Ditadura Militar o FEBEAPÁ, o Festival de Besteira que Assola o País, onde usava personagens antológicos como tia Zulmira, Rosamundo e primo Altamirando para criticar tudo e todos. Afirmava ser difícil saber quando as besteiras começaram a assolar o país, mas disse ter percebido um alastramento quando uma inspetora de ensino do interior de São Paulo, portanto uma pessoa de nível intelectual elevado, denunciara às autoridades o professor como um perigoso agente comunista, depois que seu filho tirara zero na prova de matemática, mesmo sabendo tratar-se este de um verdadeiro debilóide.  
Recentemente, a Rede Globo adaptou para a TV um dos seus livros, As cariocas, de 1967, uma coletânea de crônicas sobre o cotidiano carioca através de personagens femininas. Fica uma sugestão de uma biografia de Sérgio Porto muito boa: Dupla exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta, de Renato Sérgio. 
Imagine se Stanislaw Ponte-Preta ainda fosse vivo! Pois é, não é. Sérgio Porto, um boêmio inveterado, mesmo sabendo dos seus problemas cardíacos, morreu em decorrência de um infarto em 29 de setembro de 1968, aos 45 anos.
- Tunica, eu tô apagando. – foram suas últimas palavras.  

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