quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Borges: uma vida – Edwin Williamson


O que leva um professor de literatura espanhola da renomada Universidade de Oxford a gastar dez preciosos anos de sua vida pesquisando sobre um sujeito que viveu toda a sua vida entre livros, ficou cego na casa dos 50 e viveu com a mãe até os 75 (por que ela morreu!)? O que fez com que a biografia desse sujeito tenha sucesso no meio editorial? A resposta à primeira pergunta é que esse sujeito é Jorge Luís Borges, o “mestre argentino” e um dos maiores poetas de língua espanhola. Para a segunda pergunta, podemos dizer que o “aval” do maior crítico literário vivo, Harold Bloom (aquele que reconheceu a genialidade de Machado de Assis, mas que não leu Guimarães Rosa por que “não tinha mais tempo”) pesou.
Mas não foi somente o “aval” de Bloom que fez de Borges: uma vida, do inglês Edwin Williamson, um sucesso. O livro é bom! Williamsom fugiu do modelo tradicional de biografia e tentou (com sucesso!) estabelecer a relação entre o texto literário de Borges e o contexto pessoal do poeta, dividindo sua produção artística em três etapas: a primeira é marcada pelo nacionalismo cultural e pelos vínculos com as vanguardas europeias; a segunda é caracterizada pelo pessimismo, pelo ceticismo e pela influência kafkiana; a terceira é de certo retorno à paixão juvenil.
Em todas elas Borges tentou romper com a ideia de que a arte deveria ser um espelho da realidade. E nisso há uma contradição do poeta, que afirmou em certa ocasião: “Não criei personagens. Tudo que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção". Ou seja, tudo que escreveu estava vinculado à uma realidade.   
 Williamson conseguiu traçar o perfil literário de Borges a partir das suas várias paixões femininas, mesmo o poeta vivendo entre livros e tendo um temperamento retraído. O ponto crítico do livro está quando o autor esmiúça as diferenças entre as várias tendências políticas na Argentina do jovem Borges e as divergências filosóficas e estéticas entre os grupos literários da época. Nesse trecho, o livro fica cansativo! Mas não chega a comprometer a obra. Borges morreu em Genebra, em 14 de junho de 1986.   

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