quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

14 contos de Kenzaburo Oe


O livro Uma questão pessoal, lançado em 1963, logo após o nascimento do seu primeiro filho, com grave deficiência, é considerado a obra-prima do japonês Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de literatura de 1994. A enfermidade do filho é tema recorrente na obra de Oe. Aliás, a obra de Oe é fortemente autobiográfica. 14 contos de Kenzaburo Oe, publicado pela Companhia das Letras, serve como carta de apresentação de sua obra. Essa coletânea reúne textos escritos entre 1957 e 1990, onde ele lança seu olhar realista sobre o mundo e a construção do seu universo inegavelmente japonês.
O primeiro conto (na verdade, um roteiro), O armazém zoológico, é uma exceção no livro, com seus hilariantes desencontros, comunicação falha e final feliz. Os demais contos tratam os dramas humanos e suas tragédias. Em Salte sem olhar, um estudante de literatura francesa (muitos personagens de Oe são estudantes de literatura francesa, como o autor foi na juventude) vive um relação acomodada com uma prostituta mais velha, sem nunca tomar a iniciativa de “saltar para a vida”.
Outro tema recorrente da obra de Oe é a loucura, retrata no livro em três contos. Em Os pássaros, um jovem recluso no seu quarto acredita viver na companhia de pássaros que o protegem da realidade. Em Convivência, um rapaz recém-formado acredita viver na companhia de quatro macacos em seu quarto. E em Arghwii, o monstro celeste, um homem acredita conversar com um bebê gigante que vem do céu. Essa imagem representaria o filho deficiente (olha a deficiência presente de novo!) que o homem matou.
A sexualidade está presente em três contos. Em Exultação, encarado como um existencialismo à japonesa, há uma forte tensão sexual entre o diretor de cinema e sua jovem atriz. Em O homem sexual, J esconde de sua segunda esposa a sua homossexualidade (essa seria a causa do suicídio da primeira esposa). Em Seventeen, conto que foi duramente criticado pela direita pela esquerda, um jovem onanista compulsivo simpatizante da esquerda se torna ultradireitista.
Em A semana do idoso, Português brasileiro e Em outro lugar, é retratada um tipo de incomunicabilidade tipicamente japonesa, em que algo importante deixa de ser dito na tentativa de preservar a harmonia social.  Os dois últimos contos, Viver em paz e A dor de uma história, Oe pega emprestado a voz de sua filha para retratar o delicado equilíbrio familiar, o que inclui os cuidados com seu filho mais velho, portador de uma deficiência mental. 14 contos representa uma porta de entrada não apenas para a produção de Kenzaburo Oe, mas para toda a literatura japonesa. 

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