segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Antes pó


Aquele olhar, talvez, nunca mais o esqueça. Ausente parecia focado em mim, a sua indiferença me perturba até hoje. Os meus olhos vazios foram preenchidos quando o vi, o corpo que o carregava, cansado parou ou foi parado por alguém, o pôr-do-sol pareceu ter se prolongado mais naquele dia, pareceu sentir ternura e por isso não quis abandoná-lo.

Uma das mais belas imagens que vi nesta vida: o mar quase escondendo o sol refletido naqueles olhos. Uma luz me aquecia com uma fria sensação de calor.

Eu com medo de ter refletido em meus olhos a brancura de um quarto hospitalar, caminhei por entre o mar, veloz como na concepção, mas ali era o contrário, não havia concorrência, era eu sozinho, diminuí o ritmo das b-r-a-ç-a-d-a-s realizando a eterna meia volta.

A boca selada pela areia, como uma mordaça revelava o homem antes do pó.

Por covardia, ou sei lá o quê, retornei para a minha eterna ausência de mim mesmo. Já aquele corpo sem um espírito que o habitasse parecia repleto, como nunca fui.

Fernando Rocha da Silva, Graduado em Letras, Professor, possui um livro de narrativas curtas inédito, textos publicados em: O Relevo, Musa Rara, Cronópios e Literatura em Foco.

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