sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A nova tradução de Guerra e paz


Para Rubens Figueiredo (foto acima), tradutor da nova edição de Guerra e paz, de Tolstói, escrever é colocar no papel sensações que, em princípio, não se apresentam em linguagem verbal. Traduzir, para ele, é a mesma coisa, com um agravante: o texto está em outro idioma. E traduzir um livro que está entre os maiores clássicos de todos os tempos, de um escritor que coloca a alma no que escreve, não deve ser das tarefas mais simples. Não é de se estranhar que Figueiredo tenha levado três anos na espreitada.
Rubens Figueiredo aprendeu russo meio por acaso, aos 17 anos, quando estudava na UFRJ, pois achava que era “diferente” estudar o idioma dos comunistas em plena ditadura militar. Não sabia ele que lhe seria de grande serventia no futuro para complementar o salário de professor da rede estadual como tradutor. O escritor também traduz livros do inglês e compara esse trabalho àquelas caricaturas da África Antiga em que o lorde inglês é carregado num andor por nativos. O tradutor, no caso, seria o nativo que carrega o andor.
A tradução que Figueiredo fez de Guerra e paz para a Cosac/Naify tem sido muito elogiada pela crítica. Principalmente por causa da fidelidade ao texto original, a maior crítica feita às duas traduções anteriores que circulam no país. A tradução do crítico brasileiro Oscar Mendes é a menos apreciada, teria sido feita a partir do francês.  Já a do escritor português João Gaspar Simões é considerada boa pelos especialistas, mas não é fiel ao original e teria sido feita a partir de uma miscelânea de diferentes traduções. Foi a tradução de Simões que Figueiredo leu pela primeira vez o livro de Tolstói, aos 22 anos.
Sabe-se que a nobreza russa adotou o francês como forma de distinção social, utilizando-o no seu cotidiano. Tolstói o utiliza em várias passagens do livro nos diálogos dos seus personagens. Nas traduções de Mendes e Simões, todas as passagens em francês foram abolidas e traduzidas para o português. Figueiredo manteve as partes em francês e traduziu-as em notas de roda pé. A repetição de palavras num mesmo parágrafo é um método de Tolstói que muitos tradutores costumam alterar por sinônimos por acharem a repetição deselegante. Figueiredo manteve as repetições por achar que a mudança por sinônimos desfiguraria o estilo tolstoiniano.
Há algumas sutilezas de Tolstói que costumam se perder em algumas traduções, como o fato dele chamar o imperador francês ora de Bonaparte, ora de Buonaparte. Era uma forma irônica de chamar a atenção para o fato de Napoleão não ser francês, mas ter nascido na Córsega. Outra alteração foi a forma como Tolstói se refere á guerra contra Napoleão. Simões a chamava de “Guerra patriótica”, já Figueiredo a chamou de “Guerra popular”, assim como o próprio Tolstói. 
 Boa leitura!           

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