quarta-feira, 3 de outubro de 2012

As benevolentes – Jonathan Littell


O escritor americano Jonathan Littell levou cinco anos para escrever As benevolentes, seu primeiro romance. Com 896 páginas, se tornou de imediato um fenômeno literário na França, vendendo mais de 700 mil exemplares, e candidatíssimo a tornar-se um clássico da literatura contemporânea. E com razão!  Quem não desanimar com o tamanho do livro se deparará com uma ousada reflexão sobre a natureza do mal, conduzida por Maximilien Aue, um fictício oficial da SS nazista. Filho de pai alemão, que abandonou a família, e mãe francesa, Aue é culto e bissexual.
Em meio às narrativas das monstruosidades que presencia, faz questão de distanciar-se da barbárie: “Não pedi para me tornar um assassino; se pudesse escolher, optaria pela literatura”. Nesse ponto, o autor cria duas polêmicas: a primeira era que os oficiais alemães apenas cumpriam ordens superiores para matar os judeus, havendo na ocasião uma banalização do mal. Essa versão foi cansativamente usada pelos nazistas durante seus julgamentos após a guerra para escapar das punições. Na outra polêmica, o autor deixa claro que não eram apenas os alemães que massacravam os judeus. Era comum a participação de ucranianos nas execuções.
 O livro é dividido em sete partes com nomes musicais, numa alusão à paixão dos nazistas pela música clássica. Personagens fictícios, como o próprio Aue convivem com personagens históricos como o arquiteto da “solução final”, Heinrich Himmler, com quem o narrador trabalhou, Adolf Hitler, Adolf Eichmann, Rudolf Hess. Aue altera momentos de lucidez crua e devastadora ao falar de seus sentimentos, com momentos de delírios, como quando ele imagina que está vendo Hitler discursando vestido com acessórios judaicos.     
As benevolentes foi alvo de pesadas críticas em jornais como o New York Times e o Financial Time, que usaram termos como “pretencioso” e “arrogante” para descrever o livro. Disseram também que o autor usou “parágrafos mastodônticos” para descrever “grotescas fantasias sexuais do personagem”. Sem dúvidas que os parágrafos longos (alguns chegam a ter seis, oito páginas) tornam a leitura cansativa, mas isso não torna a obra “arrogante”. Sem dúvidas que o livro poderia ter metade das páginas e não comprometeria nem o enredo nem a grandeza da pesquisa feita pelo autor. Sem dúvidas que as fantasias do personagem são grotescas, mas elas não são um fim, mas um meio para mostrar uma mente doentia de alguém que fez parte de um sistema doentio que provocou uma guerra desumana. As benevolentes é leitura obrigatória!  

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