segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Felicidade no casamento


Martins está pensativo e exausto, olhando através do espelho no teto aquele corpo esbelto que jaz ao seu lado na cama, quando ouve a voz suave dela:
- Você faz tudo isso com ela?
Martins acorda dos seus devaneios:
- Claro que não! Ela é a mãe dos meus filhos.
Martins tinha 35 anos, era casado há dez e tinha dois filhos. Publicitário bem sucedido, tinha encontros esporádicos com Luciana, a morena estonteante que estava ao seu lado na cama, há cerca de cinco meses.  
- E isso é impedimento? – pergunta Luciana.
- Claro que é!
- Simples assim?
- Simples assim.
- Cuidado, moço. A maternidade não é um atestado de frigidez e falta de imaginação.
Luciana levantara-se da cama e caminhara para o banheiro, enquanto Martins contemplava cada curva daquele corpo escultural e lembrava-se da esposa. Apesar do corpo rechonchudo devido às gravidezes, ainda não era uma mulher totalmente desprovida de encantos. Martins sabia que a sua mulher atraia olhares masculinos e isso não o incomodava. Afinal, ele era o pai dos seus filhos e ela não iria traí-lo, pensava, com um leve sorriso nos lábios.  
Ainda sou um homem desejável e cheio de vida, pensava Martins. A minha criatividade na cama é ilimitada e isso pode chocá-la. É uma pena, ainda divagava Martins, que a sua esposa via o sexo apenas como uma obrigação conjugal e uma necessidade procriativa. Não posso desperdiçar tanta criatividade, concluía Martins. 
- Somos felizes assim – falou, em voz alta, para Luciana.
E voltava a pensar na esposa. Era uma mulher virtuosa. Buscava satisfazê-la na cama dentro dos limites que a decência permitia. Temia ofendê-la se tentasse algo mais ousado.
- Se são felizes assim, ótimo. Mas me responde uma coisa: depois de casar e serem felizes, o que vocês fizeram com a necessidade de desejar? – Luciana voltara do banheiro e se vestia.
- Eu procuro você.
- E ela?
- Ela se contenta com a maternidade.
Martins, preguiçosamente, levanta-se e também vai tomar banho para vestir-se.

***
Carmen estava pensativa e exausta, olhando através do espelho no teto aquele corpo escultural, de músculos bem definidos que jaz ao seu lado na cama, quando ouve aquela voz máscula que a excitava:
- Você faz tudo isso com ele?
Carmen desperta dos seus sonhos eróticos recém-realizados pelo deus grego que está lhe fazendo a pergunta. 
- Claro que não! Ele é o pai dos meus filhos.
Carmen tinha 34 anos, era casado há dez e tinha dois filhos. Dentista bem sucedida, tinha encontros esporádicos com Diego, o garotão malhado que estava ao seu lado na cama, há cerca de um ano.
- E isso impede alguma coisa?
- Claro que impede!
Diego levantara-se e fora ao banheiro enquanto Carmen contemplava seu andar com aquela opulência nadegal e lembrava-se do marido. Apesar da barriguinha proeminente inevitável com a idade, ainda era um homem desejável. Mas nunca tivera grandes arroubos sexuais, nem manifestara nenhuma fantasia sexual mais elaborada. Ter um amante não despertava nela nenhum remorso. Acreditava que a felicidade estava na variedade.
Carmen ainda se achava uma mulher atraente e os olhares e “cantadas” de colegas e pacientes confirmavam isso. Sou uma mulher muito criativa na cama, pensava ela. É uma pena que o marido visse o sexo apenas como uma obrigação inerente ao casamento e o único meio de procriar. Não posso desperdiçar toda essa minha criatividade, concluía Carmen. 
- Somos felizes assim. – falou em voz alta para Diego, que estava no banho.
E voltava a pensar no marido. Era um homem trabalhador, decente. Tentava satisfazê-lo na cama, mas se sentia insatisfeita. Temia tentar algo mais e ofendê-lo. Ele era um homem muito conservador!
- Se são felizes assim, ótimo. Mas me responde uma coisa: você não se sente culpada por trai-lo? – Diego voltara do banho e se vestia.
- Não. No meu caso o adultério não é uma vingança contra o meu marido. Mas uma vingança contra a mediocridade da vida conjugal.
- E ele, o que pensa disso?
- Ele não pensa nisso. – riu com cinismo.
Carmen levantou-se preguiçosamente e foi tomar banho.

***

Luciana e Diego estavam estendidos na cama, exaustos.
Ele admirava as formas perfeitas do corpo dela, a pela macia e os cabelos negros e compridos. Admirava-a por associar uma beleza estonteante com uma inteligência suave e um raciocínio prático.
- Como foi lá? – perguntou ele.
- Normal. – respondeu ela, sem entusiasmo. – Sempre penso em você nessas horas.
- Quem bom que você sempre se lembra de mim. – falou ele com um sorriso nos lábios. 
Ela gostara de Diego desde que o conhecera, há três anos. Era um homem realista e prático, além de portador de uma beleza devastadora.
- Claro que sim. Sempre serei leal a você. Nunca prometemos fidelidade um ao outro, mas lealdade.
- É verdade!
- E você? Como foi lá?
Diego lembrava-se de Carmen. Uma mulher cheia de fantasias e tendo seus prazeres refreados por força de pudores inexplicáveis.
- Foi bom. É como eu já te falei...
- Sei. – interrompeu Luciana - Mas eles são felizes assim, né?
- Verdade! Eles são felizes... 

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