terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Diário selvagem

Quando entro numa livraria procuro de imediato aquela estante de livros em promoção. Não apenas por causa do preço (por causa dele também), mas também por que lá encontramos livros que tem pouca divulgação, mas são muito bons. Foi numa dessas que encontrei Senhor Proust (R$ 19,90), o livro escrito a partir das lembranças da ex-governanta de Proust, Céleste Albaret, e que me colocou, pela primeira vez, em contato com o escritor francês. Foi lá também que tive o primeiro contato com Emily Dickinson através do livro Nunca lhe apareci de branco (R$ 14,90), um romance epistolar da vida da poeta americana, escrito por Judith Farr.

Em janeiro, estava numa livraria em João Pessoa e, como é de praxe, me dirigi até a famosa estante de promoções. Me deparei com Diário Selvagem – O Brasil na mira de um escritor atrevido e inconformista (R$ 19,90), do jornalista José Carlos Oliveira (Carlinhos Oliveira) e organização de Jason Tércio. O livro é o diário de Carlinhos Oliveira, escrito no período de 1971 a 1986 e revela a obstinação que ele tinha de se livrar do estigma de cronista e firmar-se como escritor de romances. O que não deixa de ser uma ingratidão, afinal foram suas crônicas que o tornou conhecido no Rio de Janeiro dos anos 70 e 80.

O livro é um inestimável documento histórico-literário, já que ele emite a opinião do autor sobre livros e escritores. Mas também é um diário íntimo, mostrando seus dilemas, a vida desregrada, a falta de dinheiro, os amores frustrados, bebedeiras intermináveis e problemas de saúde gerados por tudo isso junto. É nessa parte, a da doença que viria matá-lo em abril de 1986, que o diário torna-se de uma intimidade que beira o escatológico. Acometido de pancreatite crônica calcificada, Carlinhos tinha dificuldade de evacuar as fezes. A descrição das estratégias para conseguir tal intento é de uma intimidade, literalmente, visceral. Escatologias a parte, o livro desperta a curiosidade em conhecer as crônicas de Carlinhos (ele não se livrou do estigma) pelo seu espírito inquieto e contestador.

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