segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A debutante

Quando Débora aparece na porta de entrada do Clube Siciliano, ao som de “Epitáfio”, as luzes começam a piscar e mudar de cores alucinadamente. Sua pele branca, quase translúcida, muda de cor quando as luzes incidem sobre ela. Está radiante! Todos aplaudem a mulher que está deixando de ser criança.

- Minha Menina – pensa Dr. Barroso, emocionado.

- Um dia desses era um bebezinho. – Fala D. Elba para uma matrona de maquiagem pesada, também emocionada, que estava ao seu lado.

Débora se sentia uma princesa no seu vestido tomara-que-caia de organza branco.

- Não economizem dinheiro – Teria dito Dr. Barroso. – Afinal é a minha única filha. E quinze anos só se faz uma vez.

Débora não sabia se a excitação que sentia era da festa ou do toque do tecido na sua pele. Mas gostava do que sentia. Mesmo por que o que viria pela frente faria sua excitação aumentar. Sabia que seu pai tinha contratado Tiago Mitoso, o galã da novela das oito.

- Ai, amiga! Que inveja de você. – tinham dito as amigas da escola. – Dançar com aquele gato.

- Ele é meu príncipe encantado – Suspirara Débora, com o olhar distante.

- Investiguei a vida desse rapaz – disse Dr. Barroso no escritório para os amigos. – Não vou pagar caro para qualquer um pôr as mãos na minha princesa. Não economizo dinheiro quando se trata de fazer a felicidade da minha menina, mas não vou deixar qualquer sujeito relar as mãos nela, não.

Dr. Barroso conduzia a filha ao salão de dança onde o seu príncipe a esperava. A filha sentia o conforto das mãos gordas do pai nas suas. Avistou aquele sorriso largo de dentes brancos naquele rosto quadrado másculo que ela via todos os dias na TV. Imaginou-o sussurrando-lhe palavras românticas ao seu ouvido.

Agora ali estava ele!, pensou Débora, ao meu alcance.

Ele vestia um terno preto com uma gravata listrada em tons preto e dourado. Estava um gato! Suspirava a jovem.

- Ele se veste tão bem. É um gato! – costumava dizer às amigas, antevendo o grande dia que teimava em não chegar. E ali estava ele! Vestido como ela o imaginara.

***

Quando as luzes começaram a piscar e mudar de cor alucinadamente e a banda começou a tocar “Epitáfio”, Tiago, já acostumado a esses eventos, sabia que era a homenageada que estava entrando.

- Tiago, um ricaço do interior quer te contratar pra festa de 15 anos da filha dele. – Dissera seu empresário, o César.

- Cara, tô sem saco pra isso. Fala que minha agenda tá lotada.

Fazia aquilo por dinheiro. Achava uma chatice aquele monte de adolescentes histéricas querendo beijá-lo e pedir-lhe autógrafos.

- Já disse. O homem disse que paga 30 paus pela sua presença.

É, pensou Tiago, não custava fazer mais um sacrifício.

Vendo a debutante de longe, Tiago anteviu que ela não era mais uma adolescente. Tinha um corpaço! Pensou.

Tiago vestia um terno preto com uma gravata listrada em tons preto e dourado. Odiava ternos! A jovem se aproxima, trazida por um velhote atarracado com um bigode assustador. Deve ser o pai, pensou novamente. Tocar aquele corpo através daquele tecido macio o excitou. Sentiu algo diferente na linha abaixo do Equador. Melhor pensar em outra coisa. Impossível.

Que pele!

Que moleca gostosa!

Ao vê-la de perto, Tiago sonhou com aquela boca fazendo coisas que causariam uma síncope no Dr. Barroso. Imaginou-a sussurrando coisas que levaria D. Elba à histeria. O seu perfume estava deixando-o excitado. Mas o que fazer com tanta gente olhando? Pensou Tiago.

- O melhor a fazer é pensar no mau hálito.

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