segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pathos existencial

Para mim, o ato de entrar numa biblioteca ou numa livraria é existencial. O ato de comprar um livro é existencial. O ato de manusear (o cheiro e a textura das páginas) um livro é existencial. O ato de ler um livro é existencial. A minha relação com os livros é existencial. Ao entrar numa livraria me sinto como uma criança num playground, não sei qual brinquedo escolho primeiro. Mas a vontade é escolher todos! Às vezes chego a acreditar que essa relação deixa de ser existencial e passa a ser patológica. Não consigo sair de casa sem um livro. Não consigo dormir sem antes me acompanhar de um livro. Não consigo ir a uma livraria só para ver as novidades. Tenho que comprar algum livro, mesmo que não seja novidade. O livro, na minha vida, é um objeto existencial!

Li, nos últimos oito anos, aproximadamente trezentos livros, um pouco mais, um pouco menos. Cheguei a ler até três livros simultaneamente. Já me perguntaram um sem número de vezes se eu não confundia as histórias. Sempre respondi de bate pronto e com uma ponta de orgulho indisfarçável: não! Quando leio livros simultaneamente, procuro escolher obras de categorias diferentes (ficção e não ficção, literatura estrangeira e literatura brasileira). Essa estratégia não deu certo na semana passada e meu indisfarçável orgulho foi mortalmente ferido. Estava lendo O sonho do celta, de Mario Vargas Llosa, e Amor e exílio, de Isaac B. Singer. O primeiro um romance, o segundo, um livro de memórias. E, para meu espanto, confundi as histórias.

Em O sonho do celta, Llosa conta a história do Roger Casement, um diplomata britânico (nascido na Irlanda católica) que se volta contra o imperialismo inglês na África e na América do Sul e se engaja na luta pela independência do Eire. Já em Amor e exílio, Singer fala da sua vida da infância à sua mudança para os Estados Unidos. O problema é que ambas as histórias se cruzam nas primeiras décadas do século XX. Num dado momento, não sabia quem tinha idolatrado a mão já falecida: se Casement ou Singer. Se quem tinha sido educado num colégio interno seria Casement ou Singer. Mas ambos são livros magistrais. Num, Llosa usando seu estilo preciso e arrebatador, como sempre. Noutro, Singer com a maestria narrativa que lhe é característica. Vale à pena lê-los, com ou sem confusão.

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