terça-feira, 18 de outubro de 2011

Maugham

Não conhecia a obra do escritor britânico W. Somerset Maugham. Já tinha ouvido falar, mas tinha-o (por preconceito e desinformação, confesso) como um escritor entre tantos. Numa das minhas incursões a livraria me deparei com o livro Confissões que, segundo o próprio autor, não é uma autobiografia nem um livro de memórias, mas uma reflexão sobre temas como teatro, literatura e filosofia. Numa primeira tentativa de leitura, desisti nas primeiras páginas. E o livro descansou por alguns bons meses na estante. Inexplicavelmente, há uns três meses lembrei-me dele e me propus a lê-lo. Ao final da leitura, o que me restou foi uma curiosidade sobre um autor que podia ser tudo, menos um escritor entre tantos.

Resolvi recorrer a um sebo, e lá encontrei duas obras suas: Servidão humana e Um gosto e seis vinténs. O primeiro é considerado a sua obra-prima e a crítica o coloca entre os grandes livros da literatura inglesa de todos os tempos. É marcadamente autobiográfico (por mais que o autor queira negar). A gagueira de Maugham transforma-se numa deformação congênita nos pés de Philip Carey, que foi criado por um tio pastor protestante e formou-se em medicina, como Maugahm. O protagonista Philip Carey personaliza o homem imperfeito, lutando contra a incompreensão e a impiedade dos medíocres, fechando-se num egocentrismo de autodefesa. Pessimista ao chegar aos seus próprios limites, só não acredita em Deus por orgulho.

Um gosto e seis vinténs os críticos julgam como sendo baseado na vida trágica e meteórica do pintor francês Paul Gauguin ( 1848-1903). E de fato é possível estabelecer um paralelo entre a vida de Charlie Strickland, protagonista do livro, e a vida de Gaguin. Como o pintor francês, Strickland abandonou a família e o conforto para se dedicar completamente a criação artística. O personagem de Maugham não possuía nenhuma consideração moral ou humana, transformando-se num poço de cinismo e maldade que deixava um rastro de dor e desespero por onde passava. Tal como o pintor francês, Strickland morreu numa ilha do pacífico, de lepra (Gauguin morreu de sífilis). W. Somerset Maugham é um autor que vale a pena ser lido.

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