quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O coitadinho

A pior forma de tratar alguém é com misericórdia (pena causada pela miséria alheia). Tratá-la como uma “coitadinha”. Isso é diminuí-la. A melhor forma de mostrar a incapacidade e a inutilidade de alguém é dar-lhe esmolas. Pior do que a indignidade quem dá é a indignidade de quem aceita de bom grado a misericórdia alheia de forma passiva. A esmola é a pedra que destrói a dignidade de quem a recebe e a coloca uma máscara de bondade em quem a dá. O vereador paulistano Eliseu Gabriel (PSB) resolveu colocar a máscara da bondade: ele é o autor do projeto que concede meia-entrada aos professores da rede municipal em teatros, cinemas, casas noturnas e eventos culturais e esportivos.

Gilberto Dimenstein, em texto na Folha Online de hoje, concorda com a idéia. Seria uma forma dos professores terem acesso a cultura. Chega a sugerir descontos na compra de livros e banda larga de internet. Para ter acesso a cultura e livros, são necessários dois pré-requisitos: poder e querer. Professor (como grande parte da população) não pode devido ao poder aquisitivo. Mas também não quer. A cultura da maioria dos professores (afirmo isso sem ter medo de está cometendo uma infâmia com a categoria) resume-se ao livro didático, que é lido até as páginas ficarem amarelas e sebentas. E só!

Esse projeto é uma esmola! Nenhuma categoria profissional necessita de esmolas. Necessita de reconhecimento. A meia-entrada foi criada para atender a estudantes, como forma de contribuir na sua formação intelectual e profissional. Nada mais justo, afinal estudante, em tese, não trabalha e não tem renda. Professor tem renda (baixa, é fato). O que ele precisa não é da esmola da meia-entrada. Mas sim de uma boa preparação e de uma remuneração digna. Se a educação é uma área estratégica para o desenvolvimento do país, como afirma Dimenstein, o caminho indicado é formar bons profissionais, remunerá-los de forma adequada e cobrar resultados do seu trabalho. Esse projeto só vem corroborar a imagem do professor “coitadinho” que ganha mal, tão apreciada pelos maus profissionais, que se escoram nela para fazer um péssimo trabalho ou simplesmente não trabalhar.

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