quarta-feira, 27 de julho de 2011

O JOGO

Sou um apaixonado por futebol. Já assisti a muitos jogos bons. Mas hoje acabei de assistir o JOGO. Isso mesmo, com maiúsculas. Uma ode ao futebol! Pelo placar (5X4) você pode imaginar que tenha sido uma partida de futsal ou de futebol de areia. Mas foi de futebol de campo! Isso mesmo, nove gols. Santos 4 x 5 Flamengo em plena Vila Belmiro. Foi daqueles jogos que se assiste uma vez a cada dez anos. É certo que era um jogo que prometia muita coisa, com craques como Ronaldinho Gaúcho, Neymar e Ganso em campo. Cumpriu-se a promessa! Num jogo com tantas estrelas até os coadjuvantes aparecem. Foi o caso do jovem Luís Antônio e de Willians pelo Flamengo, ou de Ibson e Elano pelo Santos.

Aos vinte minutos do primeiro tempo o Santos já vencia por 3X0. Com destaque para o terceiro gol, feito por Neymar, que driblou metade do time do Flamengo (se Patrícia Amorim e Luxemburgo estivessem dentro de campo também teriam sido driblados) e fez o GOL. Novamente com maiúsculas. Foi daqueles gols que a torcida deveria sair do estádio e pagar novamente o ingresso. Confesso que, como flamenguista, desejei que o jogo terminasse naquele momento. Previa uma goleada histórica e desastrosa. Mas o Flamengo, contra todas as expectativas, até dos flamenguistas mais otimistas, empatou com três gols simplesinhos. O jogo estava tão fantástico que até o pênalti perdido por Elano foi bonito.

O segundo tempo teve um nível mais baixo. Também pudera! Era impossível ultrapassar o primeiro em emoção. Logo no início Neymar desempata. 4X3. Nesse momento, mesmo sendo flamenguista, o que eu queria era assistir aquele espetáculo. Num jogo como esse o placar é um detalhe (claro que se o placar for favorável ao nosso time, torna-se um detalhe todo especial). O Flamengo empatou com uma cobrança de falta de Ronaldinho própria do craque malandro, um espécime típico do futebol brasileiro. Quando todo mundo esperava que ele chutasse sobre a barreira (inclusive a barreira, que pulou na hora do chute), ele deu um chutinho rasteiro, fazendo a bola entrar devagar no gol. O mesmo Ronaldinho desempataria depois dando a vitória ao Flamengo. Eu fiquei tentado a dá uma nota dez ao jogo. Mas costumo dizer que dez é perfeição. A perfeição só existe em deus. Como Deus não existe, a nota dez também não. Dou nota 9,9.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Revogam-se as disposições em contrário

A Presidência da República, através do Decreto Único/2011, instituiu o Golfe como esporte nacional. Esse decreto é fruto de uma longa discussão que envolveu a classe política, entidades civis e desportistas, após a derrota do selecionado carinho para o Paraguai, na Copa América, onde os nossos atletas perderam quatro pênaltis. Os nossos líderes entenderam que é salutar para os nossos atletas tentarem acertar alvos menores para aprimorar a pontaria. Para não serem acusados de desumanos com os nossos atletas, os mandatários da nação escolheram um esporte que tem vários alvos a serem acertados e não apenas um como o futebol. Sem contar que o golfe já é um esporte popular no Brasil e pro proporciona a mesma emoção que o esporte bretão. No entanto, algumas adequações terão que ser feitas.

Nada de bolas e camisas de times de futebol nas vitrines das casas de materiais esportivos. A partir de agora, veremos tacos e bolas de golfe, como também sapatos apropriados para a prática do esporte. Os estádios terão que adaptar seus campos: ao invés de duas balizas, dezoitos buraquinhos (olha aí a vantagem!). Outra vantagem é que o golfe é um esporte refinado. Nada de jogadores berrando e xingando uns aos outros. É uma boa oportunidade de frear um espírito indomável de algumas das nossas estrelas (Neymar? Não!). A Rede Globo terá que adaptar a sua grade de programação, já que uma partida de golfe pode durar até quatro horas. A direção da emissora discute qual das novelas irá suprimir (Willian Bonner e Fátima Bernardes, por precaução, já se matricularam numa escolinha de golfe). Como o poder aquisitivo dos nossos atletas iniciantes é baixo, o carrinho que levará os jogadores pelo campo será um carrinho de mão, o que gerará emprego pra empurradores de carros.

Corinthians e Flamengo, detentores das maiores torcidas do país, já disputam, real a real, o passe de Tiger Woods, que tem tudo para ser o melhor do brasileirão (se a sua compulsão por sexo deixar). Ao contrário do que se imagina, o golfe exige preparação física. Especialistas afirmam que um jogado perde de 700 a 1000 calorias num jogo (pena que Ronaldo Fenômeno não alcançará a Nova Era do esporte nacional). O Decreto Único/2011 prevê que no ano de 2021 o futebol voltará a ser o esporte nacional. De acordo com os nossos iluminados dirigentes, uma década tentando acertar dezoito minúsculos buracos será suficiente para que os nossos valorosos atletas consigam acertar uma baliza de 2,44 m x 7,33 m. Revogam-se as disposições em contrário!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O dia do amigo

Hoje é o dia do amigo. Existem inúmeras frases e músicas enaltecendo esse personagem assustadoramente escasso. Eu poderia fazer o mesmo. Citar trechos de músicas e dedicar esse texto aos incontáveis amigos que não tenho e que não vão lê-lo. A palavra “amigo” se vulgarizou a tal ponto que se criou a figura do “amigo verdadeiro”. Se for para acrescentar o adjetivo “verdadeiro” ao “amigo”, desconfie. Não é amigo. Isso não existe. Amigo é amigo! Ao “amigo” não há a necessidade de acrescentar o “verdadeiro”, está intrínseco. Aquele que não é amigo é “colega”, é “conhecido”. Ou não é nada!

Existem algumas características que são inerentes ao ser humano, que o torna diferente dos demais animais. Uma delas é o comentário inconseqüente, conhecido popularmente como fofoca. A fofoca é o antídoto da amizade. Destrói não apenas a amizade, mas como qualquer outra relação humana. A fofoca sempre tem uma conotação sexual. A forma mais eficaz de subjugar socialmente outra pessoa é denegri-la a respeito de sua vida privada. E nada mais “anti-amizade” do que a intromissão na vida íntima. O amigo mantém uma distância respeitosa. O colega quer imiscuir-se nos pormenores. O amigo não pergunta. O colega é um interrogador. Ao amigo dar-se respostas espontâneas. Ao colega dar-se respostas desconcertantes.

Os meus amigos contam-se nos dedos de uma mão. E ainda sobram dedos. Acho o contato social, na maioria das vezes, enfadonho, trabalhoso, cansativo. Prefiro compartilhar poucas relações inteligentes a muitas insensatas. Prefiro o isolamento da humanidade, cultivando poucas pessoas. É a prudência a serviço da amizade, a serviço do bem viver. Uma amizade se alimenta de períodos curtos de convívio. A convivência prolongada entedia e desgasta a amizade. Nesse dia do amigo comemoro o fato de ter poucos (pouquíssimos) amigos e não precisar lhes dizer isso.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Satisfaction

O ser humano, a seguir o seu curso natural, nasce, cresce, definha e morre (a reprodução é opcional). Isso só não acontece se ocorrer algum imprevisto no decorrer desse processo. Essa regra, ao que parece, não serve para os membros dos Rolling Stones. Estava na sexta feira à noite assistindo um show da banda num canal fechado e fiquei estupefato com a desenvoltura do vocalista Mick Jagger e do guitarrista Keith Richards no palco. É algo assombroso, afinal estamos falando de sexagenários. E sexagenários que consumiram drogas em quantidades industriais durante parte da carreira.

Se os componentes da banda por si já são considerados lendas do rock, com essa desenvoltura assumem a faceta de semideuses para seus fãs. Mick Jagger saracoteia no palco por duas horas. Se eu fizesse o que ele faz por dez minutos, pode ter certeza, ficaria uma semana de cama para me recuperar. E olhe que ele tem, pelo menos, vinte anos a mais do que eu. Não são apenas os saracoteios, claro. Jagger ainda é, na casa dos sessenta, um grande cantor, com uma perfomance impecável. E mantém ainda a firmeza na voz de quando ainda estava na casa dos vinte.

A fisionomia de Keith Richards dá uma pista do que deve ter sido a vida desse cidadão. Após consumir uma quantidade de droga suficiente para derrubar uma manada de búfalos (exagero, eu sei) seu rosto, transformou-se numa mascara de rugas. Numa entrevista às Páginas Amarelas de Veja, ele mesmo admitiu que não sabe como ainda está vivo. Mas ainda é um guitarrista fantástico! Ele e a guitarra parecem que nasceram juntos, fazem parte de um só elemento. E continua com os mesmos trejeitos do roqueiro do início da carreira. É maravilhoso ouvir “Satisfaction” na voz desses sessentões. Vida longa aos Rolling Stones.