quarta-feira, 13 de abril de 2011

À espera

Viver é esperar. Passivamente ou não, vivemos esperando algo. Esperamos o momento para iniciar a corrida atabalhoada em busca do óvulo. Depois, esperamos passivamente durante nove meses no recôndito escuro e aquecido do útero o momento para iniciar uma nova fase de esperas. Esperamos um mundo melhor, esperamos a paz, esperamos na fila, esperamos no ponto. Há até salas dedicadas a ela, a espera! Não importa se a espera é passiva, quando nada podemos fazer a não ser esperar, ou se a espera requer uma atitude pra que aconteça, o fato é que passamos grande parte da vida esperando. O que nos leva a esperar tanto? A espera intensifica o desejo, ou melhor, nos ajuda a reconhecer quais são os nossos verdadeiros desejos, separando nossos entusiasmos passageiros de nossos anseios mais sinceros.

A espera mais angustiante é espera do amor, o verdadeiro amor. Uma espera que parece infinita e, muitas vezes, é. Uma espera que desespera! Tão angustiante, que muitos saem a sua procura, sem saber que o amor não se procura, ele surge do inesperado. A busca pelo amor é infrutífera e inútil. Ele nos busca, cabe a nós ter a sensibilidade e perspicácia de detê-lo para que não se perca no vazio. A perspectiva de encontrá-lo transforma a espera num doce tormento. A espera do amor é o tempo de deixar crescer aquilo que há de ser. Quando ele surge de onde menos se espera, a alma inunda-se por um delírio de extrema felicidade.

Os ponteiros do relógio não andam mais em círculo, muito menos buscam atalhos. Eles preferem o caminho mais longo. É a vingança do tempo! O frio na barriga marca o compasso da espera. De repente passos curtos e rápidos sobre pés tamanho 34 e a voz inconfundível que o coração reconhece. É a deusa falível de Borges! Aquela que carrega o amor no próprio nome e o gravou naquele coração descompassado. Aparece o doce sorriso metálico que é um abrigo para os olhos de quem o vê. A figura do coração, feita com as mãos postas à frente, por pouco não substitui o verdadeiro, que anseia para tê-la como dona. A partir daí, os ponteiros do relógio buscam atalhos antes desconhecidos. É a segunda vingança do tempo! Tem início uma nova espera pelos sons e gestos familiares do amor. Beijos de amor, molhados e demorados.

3 comentários:

  1. olá,
    sou uma fã e gostei mto do texto. parabens! vc fez p alguem?

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  2. A espera é longa...E eu continuo esperando. Esperarei eternamente.

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  3. È impressionante, mais vivemos sempre a espera de algo q as vezes nem sabemos o q. Vivo esse dilema diariamente. Amei seu texto. Um abração.

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