terça-feira, 22 de março de 2011

Até que a morte nos separe

“Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida.” Gustave Flaubert

O homem nutre uma fixação pela morte ao mesmo tempo em que tenta negá-la constantemente e de todas as formas possíveis. A negação/fixação se manifesta de várias formas, seja em eufemismos ao se referir a ela, seja na busca incessante pela longevidade/imortalidade, presente tanto na ciência como nas religiões, seja no culto aos mortos e aos monumentos e cerimônias fúnebres. No cinema e na literatura abunda referências a morte, seja de forma cômica, poética ou macabra. Muitas vezes essa fixação e essa negação se dão de maneira inconsciente. Propõe-se, inclusive, existir o ensaio da morte: o sono.

A medicina e uma constante negação da morte, apesar da sua inexorabilidade. Tratamentos buscam evitar, de todas as formas, que as enfermidades alcancem seu objetivo: a morte. Percebe-se que as vitórias são transitórias, uma vez que a morte até hoje se mostrou inevitável. Em território americano, há empresas que se propõe a congelar os mortos até que a ciência encontre a cura para as suas enfermidades, procedendo-se o descongelamento do “cliente”, evitando-se a morte. A cirurgia plástica não deixa de ser também uma batalha contra o tempo e, conseqüentemente, contra a morte.

As religiões, por vias distintas, buscam o mesmo: negar o inegável. Seja reencarnando indefinidamente ou indo para o céu (ou inferno!), o objetivo das religiões é mostrar que a morte não significa o fim, mas uma passagem. No dia-a-dia, observamos formas de negar a morte no uso de eufemismo para designá-la. Para uns, ninguém morre, desencarna. Para outros, fulano não morreu, foi para outro plano ou partiu dessa para melhor (prefiro está na pior!). Ou simplesmente, partiu. Ou se foi. Ou nos deixou. Simples assim. Não faltam eufemismos para negar o inegável: o sujeito MORREU!!

Mas nem todo mundo quer negar. Existem aqueles que têm verdadeira fixação pela morte e por tudo que a ela se relaciona. Até mesmo aqueles que tentam negar têm, inconscientemente, uma fixação pela morte. As pirâmides do Egito e o monumento indiano Taj Mahal, pontos turísticos concorridíssimos, são mausoléus. Os museus mundo afora expõem múmias, egípcias ou de povos pré-colombianos, que nada são além de cadáveres. Constam como destino turístico oficial europeu 54 cemitérios. O mais famoso deles é o parisiense Père Lachaise, que recebe milhares de visitantes a cada ano. O fato é que negando ou não, o homem não tem medo da morte, tem medo da dor que vai provocar a morte e do desconhecido que virá logo após. Por mais que as religiões queiram criar destinos post mortem, o fato é que nós não sabemos o que nos espera. Acreditamos naquilo que queremos que aconteça. Ate que a morte nos separe...

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