quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Silas, O Bárbaro

Não sei qual a violência maior: se o conteúdo dos 600 outdoors espalhados pela cidade do Rio de Janeiro pela Igreja Assembléia de Deus, que você vê na foto ao lado, ou a atitude de cinco playboys na Avenida paulista ao agredir três rapazes por que os julgou homossexuais. Não sei também os motivos pelos quais o assunto (homossexualidade) deixa o pastor Silas Malafaia tão exaltado, a ponto de disparar tantos desatinos. Desconfio, mas não ouso falar. Talvez a psicanálise explique. Como forma de atacar os homossexuais, os outdoors exibem a frase: “Deus fez macho e fêmea”. Deus também fez mais de um tipo de ignorantes. Um deles anda sempre com a Bíblia debaixo do braço e apregoa que ela é a única fonte de sabedoria e somente ela deve nortear o comportamento humano. Para a infelicidade desse tipo de ignorante, o Brasil é um país laico e o que norteia a vida do cidadão brasileiro é a Constituição.

Recentemente, ao comentar o Projeto de Lei Constitucional 122, que prevê a união entre pessoas do mesmo sexo, o pastor Silas foi de uma grosseria e de uma desfaçatez que não se espera de um líder religioso. Afirmou que, se era para chancelar o “vale tudo”, que se colocasse na lei a relação sexual com animais e cadáveres. Será que o desequilíbrio do pastor leva-o a pregar suas idéias para animais e cadáveres? Será que ele sobe ao púlpito de sua igreja e dirige pregações para cães e defuntos? O Projeto de Lei trata da vida de cidadãos brasileiros vivos e, por mais que o pastor não concorde com o seu conteúdo, não se justifica tal grosseria. No início do ano, o pastor Silas Malafaia compareceu ao Programa do Ratinho, no SBT, para discutir o mesmo assunto. Disse que a lei criminaliza a opinião. Chegou mesmo a falar numa “ditadura gay”. Num Estado Democrático de Direito a opinião é livre, desde que não seja ofensiva. O sujeito pode não gostar de evangélicos, mas não pode pregar o extermínio de todos aqueles que aos domingos vestem o terno com cheiro de naftalina, colocam aquele calhamaço de bordas douradas debaixo do braço e vai para a igreja gritar como se Deus fosse surdo. O direito a fé é garantido na legislação brasileira. Como é também o direito a sexualidade!

Se falarmos em “ditadura gay” no Brasil por causa d PLC 122, poderíamos falar também em “ditadura das crianças” ou “ditadura dos idosos”, já que existem leis específicas que protegem a criança e o idoso. E o que falar das mulheres? Vivemos uma “ditadura de saias”? Afinal temos a Lei Maria da Penha que protege a mulher vítima de violência doméstica. É obrigação do Estado proteger todos os setores da sociedade que sofrem algum tipo de violência e não tem como se defender, como é o caso de crianças, idosos, negros, mulheres e, para desespero do nobre pastor, os homossexuais. No mesmo programa, o pastor Silas, quando questionado pelo apresentador se a homossexualidade é genética, afirmou que só há dois genes: macho e fêmea. “Ninguém nasce homossexual. Homossexualismo é comportamental.” A sexualidade, como a fé, é algo pessoal. Ninguém escolhe a sexualidade. As pessoas simplesmente são homo, hetero, bi, trans ou qualquer outro nome que se dê. Como também ninguém escolhe se vai ter fé ou não. As pessoas simplesmente têm ou não tem. Sexualidade não é opção. Ninguém opta por uma sexualidade que vai levá-la a ser alvo de chacotas e agressões físicas, a sofrer discriminação na hora de procurar emprego, na escola e até mesmo no seio da família. Mas é obrigação da sociedade e do Estado proporcionar a felicidade e o bem estar a todos, independente de sua fé ou sexualidade. Quanto ao pastor, será que Freud explica?

Um comentário:

  1. Não sou tão radical quanto o pastor e nem quanto o Sr, mas acredito que a natureza exista macho e fêmea e qualquer coisa diferente disso é uma anormalidade. Não que ela deva ser combatida (apedrejada), respeitada e não exaltada como estão tentando colocar no mundo hoje.
    A consideração dela ser anormal é lógica. Concorda comigo? mas ela existe, então não podemo deixar essas pessoas a margem da sociedade.
    Não precisaríamos de todas essas leis específicas, se as pessoas respeitassem a lei a maior. A violência contra os homossexuais em Sampa, foi muito mais do que um preconceito, foi uma violência contra um ser humano. Quer violência maior que essa?

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